segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Autobiografia - Validade: um dia

Salvador Dali

Há partes de mim impressionistas, outras cubistas, outras renascentistas que ainda não nasceram. Tudo que é não-eu resvala-se sobre tintas e pincéis em cores surrealistas ou nunca usadas. Há outras partes de mim parnasianas, barrocas, modernistas e quase-contemporâneas. Desprezo as palavras que me completam, os livros que me orientam, os autores que me autoajudam. Habito o inconcluso e é a partir deste mal-estar que caminho por entre Vivaldi, Mozart, Bach, Beethoven, Mahler e Wagner. De Toscanini roubei o virtuosismo de sua batuta, de Van Gogh a palheta, de Salvador Dali seu desvario, de Artaud seu teatro, de Samuel Beckett seus silêncios, de Freud o inconsciente, de Lacan seu olhar de futuro-anterior, de Clarice seus enigmas, de Guimarães suas veredas... Do oceano recebo o murmurar das ondas, das gaivotas o voo curvo em arco, das borboletas o mimetismo com os troncos das árvores, da hiena o riso de escárnio, da coruja o gosto pelo noturno, dos rios a descida vertiginosa. Em dias assim, os lagos me aborrecem com sua calmaria, a falta de vento clama tempestades, as caixas de som por um jazz pulsante, os ouvidos pelo teu nome exultado em meu coração. 
Há outras partes de mim que bem sei, gostariam de estar presentes no dia de hoje. Mas, infelizmente, em dias assim, pressentindo o pior, elas me abandonam e, sinceramente, não sei quando retornam. Portanto, nada posso dizer ou saber sobre elas. Fico repleto de espaços silenciosos e ocos como um bambu. Não me criei para flautas, mas para violoncelos. A gravidade melancólica do instrumento não faz nenhuma fronteira ao meu corpo. Eu e ele somos um só instrumento. As Seis Suítes para Violoncelo de Bach fazem parte das minhas entranhas. Sim, sou composto por acordes de um Boccherini ou Rostropovich para as notas graves e outras que compõe minha Saraband. 
Acordei com o pescoço alongado de um Modigliani, a dissonância da guitarra de Hendrix, os olhos arredondados de um mangá e os dedos compridos de Glenn Gould. A sedução de Frida Kahlo por Diogo Rivera tempera os outros eus-pessoanos que habitam partes invisíveis do meu corpo. Para uma metamorfose kafkiana nada falta. Talvez só o empuxo ao livro. Cego-me com as serpentes cabeça da Medusa e faço com meus heterônimos a assinatura possível para corromper o dia. 
Sim, corrompo palavras, destrato outras, defloro outras tantas ainda virgens de mim e, assim, reinvento o dia. 
O que sobrar de minhas horas vadias vou debulhar para o amanhã. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poesia Erótica

 Gustav Klimt The Virgin

Poesia Erótica

Falar do erotismo é uma tentação e um perigo. Tentação porque o tema por ser demasiadamente humano, corre o risco de se tornar banal, e um perigo porque corremos o risco de não querermos mais falar de outra coisa de tanto que o tema nos excita. O erótico não é o pornográfico. O pornográfico é sem sal. Alguns podem até achar que dá tesão, mas é muito mais insosso do que o erótico que apenas insinua, quase revela ou ainda que um véu, um pequeno véu, recubra um mistério a ser desvendado. No pornográfico a palavra está escandida ou substituída apenas por algumas interjeições que tentam inflamar a monotonia do coito superlativo. No erotismo, e George Bataille sabia disso quando escreveu  A história do olho, com todas as metáforas que vocês quiserem e puderem fazer com este tal de olho. Dois adolescentes a experimentarem os prazeres do olho. Ele não nos diz do olhar que seria outra coisa, talvez mais ao gosto sublimatório. Bataille não nos faz concessões, ele vai fundo ao mais fundo do que se possa ir em relação ao olho até arrancá-lo do touro e comê-lo frio numa bandeja oferecida ao menino e a sua devassa namorada. A história escandalizou tanto ao próprio Bataille que ele não teve coragem assinar seu nome e inventou um pseudônimo, mas mesmo assim não esqueceu a ironia escatológica. Deu-se o nome de Lord Ausch que é Deus cagando(quem nos explica é o próprio Bataille numa entrevista muitos anos após a publicação do texto).
Mas o livro desta resenha é mais ameno, mas não menos erótico. Chama-se Poesia Erótica (Companhia de Bolso) com tradução de José Paulo Paes, o que já é uma garantia de boa leitura. O livro em versão bilíngue vai dos Gregos, passando pelos alemães e italianos da Renascença aos franceses surrealistas.  A poesia erótica não trata obviamente apenas de Eros e seus priapismo fálico, mas também de dois temas caros ao erotismo: amor e morte. Talvez salvo apenas por Safo de Lesbos e a poesia mística de Santa Teresa de Ávila, a poesia erótica é predominantemente masculina, mas nem sempre machista, pois a homossexualidade se escondeu inúmeras vezes por detrás de versos dúbios e cheios de duplos sentidos.  
Como disse no início, o tema é vasto e tentador. O melhor mesmo é ir direto aos poemas e deixar que vocês se deliciem através dos tempos; dos tempos eróticos das palavras.
Amo três gestos teus quando, senho,
Me incendeias do teu próprio fogo.
Te serves do meu corpo, minha boca
Sorves na tua, me penetras...
És poderoso, vivo, estás feliz.
Mas depois disso cada minuto é meu. Giosi Lippolis (poeta italiana da atualidade)

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A três homens eu, Lide, servi com a maior presteza:
Um sobre o ventre, outro debaixo e o outro atrás.
Recebo pederastas, mulherengos, extravagantes.
Se tendes pressa, que entrem os dois sem hesitar. (Antologia Grega)

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Sou eu, mulheres, abro o meu caminho,
Sou severo, cáustico, indissuadível, mas amo vocês,
Não as machuco mais que o necessário a vocês mesmas,
Derramo a substância geradora de filhos e filhas dignos destes Estados,
Assedio com músculo pausado e rude,
Me firmo eficazmente, não dou ouvido a rogos,
Não ouso retirar-me sem depositar o que há muito acumulei dentro de mim. (Walt Whitman)
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(...)E essas nádegas ainda, lua de dois
Quartos, alegre e misteriosa, em que depois
Irei alojar os meus sonhos de poeta,
Meu terno coração e meus sonhos de esteta!
E amante, ou melhor, amo em silêncio obedecido,
Reina ela sobre mim, o seu servo rendido. (Verlaine)
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A indecência pode ser normal, saudável;
Na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
Para a manter normal, saudável. (D.H. Lawrence).
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Se você, prezado leitor(a) se excitou, então corra ( não, não pense bobagens!)
para a livraria mais próxima e compre o livro para se deleitar com as outras poesias.  
Carlos Eduardo Leal
Psicanalista e escritor
Para quem gosta de ler ouvindo música: Anonimus: cd de música vocal renascentista, pelo selo Niterói Discos.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Enxurrada



Foi logo depois de uma tempestade no sítio de meu avô que um milagre se deu. O açude com traíras ficava ao lado de um campo de futebol onde brincávamos. Mas do que eu gostava era de vê-las dormindo na lama na beira do açude. Era um espetáculo extasiante para um menino. Eu quase podia tocá-las e, no entanto, sabia pelo dedo do Seu José empapado de sangue, o que um peixe daqueles era capaz de fazer. Esta iminência do perigo parece que me atraía ainda mais. Excitação e medo. Combinação perfeita para o desejo. 
Havia começado a chover no fim do dia e só terminou de manhã cedinho. Sei porque passei quase a noite toda acordado pensando que talvez ali seria o fim do mundo. Um menino adora pensar sobre o apocalipse e o fim da Terra. E aquele cenário era perfeito. Pelas frestas da veneziana da janela de meu quarto podia ver a claridade deitando sua luz enfurecida sobre a terra. Eram muitos e ela não haveria de aguentar tantos raios a furar-lhe o solo. Haveria de partir-se ao meio e rolar pelo universo ainda naquela noite. O fim estava próximo. A certeza com o passar das horas era cada vez mais evidente. Eram tantos raios e trovões que os cachorros latiam uivando de medo. Escutei uma correria na casa. Pensei que a "hora"  havia chegado. Levantei para me despedir da família, mas logo descobri tratar-se de uma enorme goteira no quarto de minha bisavó. Meus primos e irmãos dormiam num silêncio outonal. Eu não. Eu me derramava em emoções como a chuva de verão lá fora. 
O dia amanheceu espantosamente belo. A chuva havia lavado o mundo. Depois do café íamos saindo para ver os córregos que se formaram e os estragos. Algumas árvores deitadas não suportaram passar a noite de pé. Haiti parecia já ter esquecido a tormenta. Abanava seu rabo, pulava em cima de mim com suas patas enlameadas enquanto vinha me lamber como todo cachorro que se preza costuma fazer.
Foi quando o vô me chamou. Ele sabia que eu gostava quando me chamava para ver alguma coisa. O olhar do meu avô enxergava coisas invisíveis aos olhos humanos. Eram sempre coisas inusitadas que me mostrava: um teia de aranha com um grilo preso. O rastro de caramujo que desaparecia por debaixo de uma folha de couve. Uma rã equilibrando-se em cima de uma vareta. Os ovinhos no ninho de uma rolinha. E fui. Desci em disparada em direção a sua voz. O momento pedia. Talvez fossem sinais do fim do mundo.
Ele estava no campinho abaixo da casa ao lado do açude. O que vi causou-me espanto e uma certa dose de angústia embora eu não soubesse naquela época o que era este sentimento de desconforto. Havia dezenas de traíras mortas no campo. O açude transbordou, ele disse enquanto segurava firme minha mão. Elas estão mortas? Por que a gente pergunta o óbvio quando não conseguimos acreditar no que está tão evidente? 
Olhe mais de perto, meu neto. Eu não queria olhar. A morte assusta, vô. 
Então ele me contou a história da multiplicação dos peixes: os céus quando viam que havia crianças passando fome, despejava de noite muitos peixes no açude até transbordar. Chovia pexes, ele quis dizer. Fiquei extasiado com a história. Já tinha ouvido minha avó falar em milagre principalmente quando uma galinha que não botava ovo começou a chocar pintinhos. 
Minha bisavó Otávia, que era muito inteligente, chegou de mansinho com seu vestido azul de florzinhas brancas, cabelo ralo branquinho, chegou perto de mim e disse: ali ao lado daquele peixe tem uma palavra. Qual vó? Aquele peixe maior ali, apontou para um prateado. Vá lá e pegue a palavra tempestade que está caída ao lado dele. Também veio com a chuva, vó? 
Ela sorriu, passou a mão na minha cabeça, larguei a mão do vô e confiante, obedeci. 
Tratei de guardar aquela palavra e todas as outras que me foram "ofertadas" pelos meus avós dentro dos livros. Assim, elas não se sentiriam tão só. 
Ainda hoje, sempre que posso, passo para revê-las. 

A terceira palavra


Nasci sem saber onde estava. E, como não sabia, para mim era irrelevante saber. Não havia curiosidade alguma. Só contemplava. Depois de dois anos e meio vegetando e sem dar sinais de que ousaria falar ou sair do meu cercado, pronunciei a primeira palavra "mamãe" e, para que o senhor que estava ao seu lado não se decepcionasse, "papai". Foi uma alegria geral. Finalmente, aquela criança insossa, seria um pouco mais do que um legume mal cheiroso. 
Não é que eu não soubesse falar. Sabia já há muito tempo como dizer as coisas. Apenas não achava necessário. Ridículo falar seria mais justo pensar. As palavras tonteavam-me a cabeça. Ficava irritadiço quando macaqueavam sons para que eu repetisse. Para quê? Perguntava-me irritado e silencioso. Aliás, apenas grunhia e gritava sons incompreensíveis.
Depois de haver dito com enorme nitidez e desenvoltura como quem já tivesse o dom da oratória, não proferi mais nenhuma palavra.
Acreditava que estas duas palavras eram tão fundamentais na vida de uma criança que nenhuma depois delas poderiam substituí-las. Seria uma mácula com os nomes que eles gostaram tanto quando eu os chamei. E, assim, apenas os olhava, compreendia tudo que me diziam, mas mantinha meu silêncio. Sabia que eles sabiam que eu poderia falar, que não havia em mim nenhum problema de audição ou fonador. Mas seria um sacrilégio profanar aquelas duas primeiras palavras. Prometi que não diria a terceira palavra. 
Na escola eu era um brilhante aluno, mas todos me achavam estranho por não falar. Meus pais haviam conversado com a direção da escola sobre minha situação. Os anos foram passando, tive mais dois irmãos que falavam como tagarelas, talvez para compensar minha mudez, mas mantive-me firme em meu propósito de não pronunciar a terceira palavra.
Hoje, mesmo após a morte de meus pais há muitos anos, continuo em meu retiro de silêncio absoluto. Tornei-me um monge recluso. Talvez a única opção que me restou para as condições difíceis que me impus ao longo da vida. Foi Deus que quis assim. Acreditei nisso ainda na adolescência. E como o nome de Deus não podia ser menor que o dos meus pai, eu deveria antes de qualquer palavra ter dito Seu nome. Depois seria blasfêmia. 
Encontro-me atualmente num mosteiro na Bélgica. Guardo meus votos de silêncio. Guardo meus votos de preservar mamãe e papai.  

Inspirado em: "A metafísica dos tubos" de Amélie Nothomb (um relato autobiográfico ancorado no delírio, tal como Joyce, pensado por Lacan). Alguns trechos:  "sou eu. Eu sou a que vive. Eu sou a que fala..."(...) "O acidente mental é uma poeira que entra por acaso na ostra do cérebro, não obstante a proteção das casas fechadas da caixa craniana. De repente, a matéria tenra que vive no centro do crânio é perturbada, enlouquecida, ameaçada por esta coisa estranha que nela penetrou; a ostra que vegetava em paz dá o alarme e busca anteparo." (...) "Já Deus não se cansava de efetuar seu primeiro absolutamente nada." (...)"A única escolha ruim é a ausência de escolha. Deus não recusara nada porque nada havia escolhido. Por isto é que não vivia."(Deus é ela no livro, na verdade um tubo metafísico).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Semana Clarice Lispector Dia "C", 10 de dezembro

http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok&feature=player_embedded

Clarice Lispector: Aquarela sobre foto P&B

Semana Clarice Lispector Clarice nasceu no dia 10 de dezembro

‎"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade".

"Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei de criar sobre a vida. E sem mentir." A Paixão Segundo G.H.

Semana Clarice Lispector
‎"Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Quando digo "águas abundantes" estou falando da força de corpo nas águas do mundo. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. Lê a energia que está no meu silêncio. Ah, tenho medo do Deus e do meu silêncio. Sou-me." Água Viva

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dormingo

 
Dormingo. 
O que vocês leem aqui não são minhas palavras. Ainda durmo. Portanto, são meus sonhos. Palavras oníricas. Feitas de traços de memória, pequenos esquecimentos, lembranças infantis, desejos inconfessos, árvores por subir, ossos fraturados. O sol se aproxima e cochicha alguma coisa em meus ouvidos. Não ouço o final porque o vento o leva para detrás das nuvens. Dentre elas existem substantivos escondidos. Tento saber em qual delas estará o teu nome. Um sorriso aparece por detrás de marionetes. São autômatos que vem brincar comigo. Parece um dia de festa. Todo domingo deveria ser dia de festa. Agora crianças surgem de todos os lados e me puxam para pular corda. A corda trançada é enorme e faz um belo arco no céu enquanto as crianças pulam flutuando. Meu avô diz que é hora de irmos ao circo. Não caibo em mim de tanto contentamento. Palhaços me excitam e causam-me terror. O que haverá por detrás da máscara que esconde a máscara do rosto? Há um circo com trapezistas. Sou um deles. Equilibro-me em palavras. Algumas parecem não suportar meu peso. São frágeis minhas palavras. Vou cair. Vertigo!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Van Gogh



Estava cansado de andar e resolvi calçar Van Gogh. Assim, descansei meus olhos, desamarrei meu dia e, descalço, pude sentir o preço da leveza. Peguei tinta e pincel e, com eles, escrevi o seu nome sobre uma tela de linho branca. Escrevi com diversos tipos de letras e todas as cores disponíveis. Seu nome estampado virou um vestido que colava em teu corpo. E você flutuava em letras comigo pelos canais de Amsterdã. Nas tardes cansadas, um arcoíris flanava por entre as nuvens. Então, exaustos, íamos tomar um vinho na velha estalagem. Você sorria e, afagando meus cabelos, me fazia deitar em seu colo até sonhar colorido.
Estava cansado de andar e resolvi calçar Van Gogh. Assim, descansei meus olhos nos teus e desamarrei o dia.

domingo, 20 de novembro de 2011

A paixão pelo Outro

 


Psicanálise e Literatura: a paixão pelo Outro

Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
                                                                                      Guimarães Rosa

         A literatura é uma paixão. Mas, ela própria conta histórias de amor e paixão humanas, demasiadamente humanas. A paixão é um sentimento e um afeto, no qual o sujeito vive a intensidade transbordante da alienação pelo Outro. Tudo gira num turbilhão para o sujeito como se num primeiro momento da paixão ele tivesse encontrado com a parte que lhe faltava e se tornado uma espécie de deus no Olimpo dos seus sentimentos. A sensação de grandeza e plenitude da alma, o bem-estar que o acompanha neste encontro com o Outro o torna radiante como quem possui a certeza de ter encontrado um pote de ouro ao final do arco-íris. A paixão pelo Outro comporta um grau de ilusão que pode ruir com a verdade  proclamada.
No oceano das paixões, no mergulho da vida quotidiana de cada um, tudo que podemos encontrar possui a descomunal e abissal característica de ser superlativo. Aliás, o inconsciente é superlativo. Tudo nele é desmesuradamente enorme, ou diminutamente pequeno, ou engenhosamente distorcido.
As paixões são, na verdade, ecos das lembranças do amor infantil. Este amor vivido em tenra infância marca o compasso que regerá a vida futura de cada sujeito. Data deste tempo o que podemos escutar sobre o que foi o inesperado descobrimento do corpo, a surpresa das primeiras identificações, a luxúria dos primeiros banhos compartilhados, o fascínio da captura dos primeiros olhares maternos, o (des)encontro com o olhar do pai, o inquieto e algumas vezes angustiante confronto com os enigmas, a vontade e a diversão em decifrá-los, a turbulência dos primeiros sonhos, a alegria pela vida e o temor angustiante pela presença do obscuro da morte.
 Quando surge o Outro da paixão, o sujeito é tomado por um afeto que o abalará para sempre em sua vida. Nada será como antes. A paixão é um divisor de águas na qual o sujeito perdeu o leme e a bússola que o guiava, e o que é pior, sem saber disso.


Menu Leia saborosamente “A paixão segundo G.H.” de Clarice Lispector. Reserve. Adicione pouco a pouco “A terceira margem do rio” de Guimarães Rosa. Na mesma panela vá lentamente refogando sua imaginação com pitadas da psicanálise. Leve ao forno bem quente por uma hora. Sirva em seguida para a degustação e o debate.

Ps: O projeto "Baco e Sophia: conhecimento e prazer" aconteceu em 2006 em alguns restaurantes do Rio. Este foi o release para minha palestra no restaurante Margutta em Ipanema. A encontro dava direito além da palestra, a um jantar com vinhos fornecidos pela Grand Cru.  

domingo, 13 de novembro de 2011

Palavras enxertadas

  Graham Roumieu
Justine Beckett

Quando era menino, gostava de inventar palavras. Com cuidado, porque ainda não sabia muito bem como fazê-lo. Seguia os passos do meu avô que inventava enxertos para as plantas. Dálias com dracenas. Tangerinas com laranjas. Manjericão com alecrim. Orégano com lascas de macarrão (os temperos já saíam com a dose certa). Ciprestes, ele enxertava com enfeites de Natal. Ele era um inventor de impossibilidades. Em sua magia, todas davam certo. Madeiras-de-lei com árvores transgressoras. Ele mesmo ria de suas invencionices. Eu achava graça, mas curioso, prestava muita atenção com a seriedade possível para um neto que via em seu avô a saída para a monotonia do mundo. Com afinco, portanto, seguia inventando novas palavras nascidas do enxerto de duas anteriores. Porém, certo dia, talvez por descuido infantil, desinventei uma palavra. Fiquei triste como se o mundo dependesse daquela palavra para existir. Era meu mundo que rondava perigo. Mas, para minha surpresa, meu avô não brigou pela minha desinveção. Ao contrário. Achou bonita aquela palavra inexistente. Ô meu neto, ele disse, como você fez para criar uma não palavra? Na verdade era uma palavra feita no amanhã. Ainda não existia, portanto. Ela possuía uma cor nunca vista, exuberante, que descortinavam meus olhos para as estrelas. Um aroma das manhãs orvalhadas dos campos virgens e uma textura que não cabia em nenhuma gramatura de papel.  Assim, foi tanta emoção, que acabei por abrir as duas mãos (pois ainda a guardava inseguro como quem pega no escuro um vaga-lume) e feliz, com lágrimas autênticas nos olhos, consegui senti-la a acariciar-me a pele. Pude vê-la voar suave num movimento espiralado em direção aos céus. Ainda hoje a reencontro sempre que sonho e olho apaixonado no brilho dos teus olhos.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Teatro-linguagem



Cena 1 - Sirvo-me das palavras em desuso para fazer um ateliê de antigas emoções. Costuro cenas no teu corpo ensolarado com a luz que brota dos teus olhos. Deste filme-êxtase recorto frames de felicidade e os penduro no varal dos sentidos perdidos. No antigo galpão de instalações desavisadas, adormeço sobre tua pele e acordo grávido de nós dois. (Fim do primeiro ato)
Cena 2 - As roupas insinuadas dançam sobre uma poltrona nua verde água. Um raio de música perfuma o ambiente. Inebriados, loucos, quase-estrelados, rodopiamos feito marionetes azuladas. Fios brancos pendem sob nossos ossos expostos. Há uma água que cai veloz por detrás dos nossos sonhos. Vamos nos banhar. Retiramos algumas letras (as mais preciosas) do corpo. Não chegam mesmo a formar sequer uma palavra. Mas as abandonamos sobre o assoalho fresco, ainda com a lembrança dos nossos corpos. Um vento mais duro parece que vai varrê-las para longe. Estaremos realmente despidos se isso acontecer. E não haverá nova possibilidade. Trememos um medo imaginado. O abraço é forte, mas não sensual. O silêncio varre o vento. Estamos a salvo. (Fim do segundo ato)
Cena 3 - O calor encobre horizontes. Penso em você como um horizonte sobre o qual não quero adormecer. Debruço-me sobre a linha que divide céu e mar. Ouço um grito. Outro. Depois outro mais forte. Um riso descontrolado. É você em mim. Desce o pano. (Fim do terceiro ato)
Cena 4 - Só há um feixe de luz no canto do palco. Corremos para lá com o intuito de nos banharmos de um pouco de lucidez que vinha do lado de fora. Não precisávamos de muita. Era só para não cairmos nos esquecimento de quem éramos um para o outro. Nossos cílios se tocaram. Havia tanta intensidade naquela curvatura de corpos que se existisse uma corda, seríamos um instrumento. Tocamos mesmo assim um ao outro. Era leve e agradável. Houve um som. A mais linda música imaginária. E dançamos nus ao som da intensidade indescritível para o grande palco da vida. Cai o pano. (Fim do quarto ato)
Cena 5 - Corre! Corre! Corre! Eu grito numa espécie de insanidade coerente. Você vem de lá e ziguezagueia na minha frente como alguém que se afasta de um perigo que não se sabe de onde nem o quê. Tomo sua mão como que para dar-lhe uma direção. Você está suada. Exausta de tanto gesticular. Me pergunta em qual direção. Ponho a sua mão molhada sobre meu peito na altura do meu coração. Você estanca imóvel. Sorri imóvel. Me abraça imóvel. Escorrega imóvel sobre meu corpo. Agora teu suor é outro. O perfume que exalas do teu sexo também é outro. Excitada, olha para mim e, decidida, afirma: vou correr mais. A luz se apaga. (Fim do quinto ato)
Cena 6 - Dois feixes de luz descem em paralelo (distantes uns dois metros) do teto até o chão. Estamos aprisionados dentro deles. Continuamos sem nossas roupas. Eu falo que precisamos sair desta claridade com urgência. Você não me escuta, mas diz a mesma coisa. Eu também não te escuto. Estamos olhando para a frente como se não pudéssemos olhar um para o outro. Grito o seu nome. Você não olha. Você grita o meu. Para mim não há som nenhum. Falamos ao mesmo tempo coisas incompreensíveis. Parecemos já exaustos. Tentamos arrancar a luz que nos circunda sem sucesso. Falamos ao mesmo tempo: Não há salvação. Olhamos para o chão e percebemos um livro. Ele estava lá? Desde quando? Falamos juntos. Com cuidado como se debruçássemos para segurar a mão de uma criança prestes a despencar de um desfiladeiro e pegamos o livro. Há muita poeira nele. Sopramos. O pó atravessa os raios de luz. Abrimos o livro e conseguimos dar um passo para fora da luz. Há um livro que nos guia. Eu disse para ela. Não precisamos mais desta luz artificial. Ela me olha, sorri, assente com a cabeça e depois com os olhos. Com o livro ainda aberto numa das mãos, andamos em direção ao outro até nos darmos as mãos. As luzes vão diminuindo. Só existe a silhueta de nossos corpos. Continuamos andando até cairmos nos olhos do leitor-espectador. (Fim do sexto e último ato)   

domingo, 23 de outubro de 2011

Poltrona imortal



Meu avô lia
A vida
A vida também ia.

Meu avô morreu
A morte
Dele também findou.

Agora sou eu
A ler, solitário
A vida.

A poltrona
Permanece, imóvel 
Imortal.

Lembro suas mãos
Que liam, ávidas
Virando pensamentos.

Aqui estão 
O cheiro, a voz
Pássaro desfolhado.

Ficou um vazio
Não é céu, nem limbo
Saudade, sim.

Há uma biblioteca
Enorme, vazia
Na poltrona.

Meu avô
Em silêncio, imortal
Fazendo ausência.

Eu sentado
Lendo, no silêncio
Seus restos.

sábado, 22 de outubro de 2011

A Testemunha ou, A Mulher e o Amor

 
A função do olhar na obra de Clarice Lispector possui um papel desconcertante. É um olhar que não acomoda, não captura o todo, não silencia e mais, desassossega. Um olhar que se abre para o espanto, para a alegria do pecado maior, para a dor, para a descompletude do Ser. Mas, ao mesmo tempo, ousadamente extrapola os limites de onde deveria se encontrar. É um olhar que deseja saber mais do que deveria e acaba por encontrar o que não esperava: restos fragmentários do feminino que assim, aos poucos e a cada vez, começam a costurar o manto de um longo e difícil aprendizado. Um quebra-cabeça sofisticado e misterioso. Simples e imagético. Profundo, verdadeiro e sensível. Como ela própria diz: "mas, veja meu amor. A verdade não é boa nem má. Ela é o que é." Assim é o encontro do olhar de Clarice com a verdade que se esconde por detrás da verdade: a ficção por vir. 
O que nos interessa, enquanto psicanalistas, a função deste olhar? Até aonde ele pode nos levar? Qual é a relação do feminino, a mulher e o olhar nos textos clariceanos? 
A mulher encontra o amor ao mesmo tempo em que lhe é revelado nada saber sobre ele? No amor está em questão um não saber? A angústia é definida: a) como uma certeza sem um saber e; b) como algo que não engana. Então, para a mulher, qual é a relação entre o descortinar do amor e a angústia? Seria verdade, como afirma Kierkegaard, que a mulher se angustia mais que o homem (frente ao desejo do Outro)?
Questões que serão discutidas na palestra:
"A testemunha: a angústia de ter visto mais do que devia." Psicanálise e Literatura ou melhor, Psicanálise e Clarice Lispector.
Terça-feira, dia 25/10 às 20:30. Rua Lemos Cunha, 442, Niterói.

domingo, 16 de outubro de 2011

Saudade


Odisseia





Há um ódio que não estanca,
Há um amor que não desanuvia,
Há uma queimação que desassossega,
Há um frio que não abraça.
Porém, de tudo o que a antiga musa canta, vida é o que não há. E o nome luso-brasileiro para isto é saudade. Saudade não estanca, não desanuvia, não sossega e não abraça. Tenho saudades de mim. Tenho saudades de mim contigo. Tenho saudades a fazer litoral para minhas ondas. Tenho saudades cá nesta região, neste sítio do meu corpo que só tu conheces e, por conheceres tão bem, inaugura-me já com teus beijos.

(Ainda lendo com sotaque português)




sábado, 15 de outubro de 2011

Desajeitos

Desenho de Tim Burton

Desajeitos
                 Pensando em Fernando Pessoa (ler com sotaque português)


Sou um sujeito desajeitado para a vida
Sou um sujeito desalinhado para nuvens e abridores de garrafa.
Às vezes a vida me suga, noutras me ferve.
Sinto-me inútil para olhar um pôr de sol /
Talvez uma abelha assim o fizesse melhor do que eu /
Talvez uma centelha incendiasse meus dias.

Sim, tudo é sempre um talvez a amaldiçoar o quase
Como se fosse possível pescar horizontes.
Sinto-me desajeitado com as moças de olhares lânguidos
Sinto-me igualmente desajeitado para o futebol dominical.
Ah, quantas vezes pequei por errar o drible
Quantas vezes pequei por desviar o olhar das mulheres sorridentes e travessas,
Quantas vezes errei por dizer a palavra que ficou muda em meu peito.

Dói roer a corda que se colocou ao redor do pescoço para se enforcar.
Se ao menos eu soubesse como fazê-lo...
Sinto-me desajeitado para tuas mãos, para tuas coxas.
Sinto-me desajeitado para teus cabelos quando me caem aos olhos.

Tudo me é fardo e cardo.
Tudo grita e desconsola.
Tudo é tão pouco
Para um amor tão louco.
Não. Meu amor não é pouco.
Louco, sim.
Pouco, não.
Este é o meu estar desajeitado.
Estar sujeito a desajeitos d’alma.
Queria escorregar minhas mãos sobre tua pele.
Queria olhar dentro de tua alma e fazer amor a sós com ela.
Mas meu mundo grita. Meu mundo não desconsola.

Sou um sujeito desajeitado para a vida.
Noutro dia abracei o teu nome.
Coloquei-o em meu colo.
Dei-lhe carinho, beijei teus olhos.
Beijei tua boca carmim, teus seios alvos,
Tuas coxas aveludadas e teu sexo úmido.

Sim, sou um sujeito desajeitado para a vida.
Abracei-te tanto, tanto e tanto
E, com tamanha força dos meus pulmões
Que acabei por esquecer o teu nome.



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Crianças ao vento


Criança é uma palavra futuro que brinca com (o) presente. 
Noutro dia encontrei João Luis que brincava de soltar pipa. Foi quando o vento ficou muito forte e levou o menino aos céus. Olhei-o espantado. Eu estava trêmulo, mas ele me sorria lá do alto como se sempre morasse por lá entre as nuvens. O vento não amainava e eu tentava enroscá-lo na outra pipa para puxá-lo para a terra firme. Mas, aos poucos percebi que não só ele estava contente por estar entre as nuvens, como possuía o controle para permanecer lá. Gritei-lhe com todos os pulmões. Ele sorria e queria me dizer alguma coisa, mas a distância e a força do vento arremessavam sua pequena voz por detrás das montanhas. 
Mas, de repente, um vento mais forte me levou também pelos ares. Num instante a terra ficou pequenina. Eu estava eufórico e logo percebi a felicidade no rostinho do João Luis. Ele conseguia fazer bichos com as nuvens. E qual não foi a minha surpresa quando descobri outras crianças no meio de outras nuvens fazendo formas ainda mais divertidas com elas: canguru, boi da cara preta, vaca, elefante, formigas tanajuras, enfim, o zoológico era uma manada ilógica para a racionalidade, mas muito natural ali no céu da infância. 
Mas logo uma outra nuvem muito espessa foi se aproximando. Era estranha e de certa forma ameaçadora. Havia um barulho que parecia um trovão (fato que me pareceu natural em se tratando de nuvem, mas não me parecia ser de chuva). Logo percebi que era uma gritaria. Era uma nuvem carregada de crianças de diversas nacionalidades, crenças religiosas, classes sociais, econômicas. Ou seja, crianças do mundo inteiro que brincavam na mesma nuvem na maior alegria.
Uma dúvida agora balançava minhas ideias: as crianças eram felizes apenas naquele céu ou porque ainda não havia caído sobre suas cabeças a chuva da intolerância e do ódio derramada pelos adultos?
Quando descesse iria perguntar ao João Luis. Ele sempre me surpreende com sua imaginação.
Certamente as crianças nos ensinam coisas para as quais nossos olhos já cegaram.   

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Evinha e seus amiguinhos

   

Evinha ainda não tinha nem seis anos e já subia em todas árvores do sitio de seu vovô. Eram as árvores mais altas do mundo. Se bem que naquela época o mundo era o sitio. E isso já era muito. Sempre muito arteira e bem mais tagarela que seu irmão mais velho, Adãozinho. Era assim: ele inventava o nome, por exemplo, de um animal e daí ela saía inventando que o animal tinhas as cores mais reluzentes do planeta, que as unhas dos animais eram assim e assado, que os machos eram mais bonitos, etc. Ou seja, coisas que Adãozinho nem dava bola. Coisa que ele também não tinha e como não sabia o que era não dava falta. Sentia falta do silêncio, isto sim sabia bem o que era antes de sua irmãzinha nascer. Só existiam sons dos animais, mas depois que ela nasceu sua vida nunca mais foi a mesma. Seu sossego acabou. Mas, certa vez ele pensou a vida sem ela e sem saber porque, teve a pior tristeza que já sentira em toda sua pequena existência. Acostumara com aquela menina tagarela. Ruim com ela, muito pior sem, pensou andando pelo Jardim. Certo dia Evinha resolver comer uma maçã proibida. Ela perguntou por que não podia. Porque não. Foi a resposta. Não se deu por satisfeita, ou melhor, ali ela inaugurava toda a genealogia das mulheres histéricas insatisfeitas. E como a resposta não foi convincente, ela se convenceu e de quebra ao Adãozinho, de subirem na macieira e saciarem a curiosa fome que sentiam. Se fartaram. Dormiram.
Quando Adãozinho acordou seu pai gritou-lhe: Newtonzinho, venha cá meu filho. Adãozinho que agora era Newtonzinho não se deu por vencido e continuou deitado embaixo da árvore, na sombra fresquinha daquele verão. procurou por Evinha, mas não encontrou explicação para seu sumiço. De repente Newtonzinho agora queria explicação para tudo porque ele sentia uma Força de Atração muito grande por aquela menina que pensava que fosse sua irmã, mas não era. Ah, como não era. Não era. Portanto, como. 
E lá estava nosso amiguinho quase cochilando debaixo da árvore quando de repente...Bum! Viu cair uma maçã bem perto de onde estava. Putz! pensou. Ainda bem que não era uma jaca. Mas, peraí. Por que a maçã exerce sobre a terra o mesmo efeito que Evinha exercia sobre mim? E não parou mais de pensar. Pensou tanto que resolveu cortar a maçã ao meio. E, como não era muito bom em cortes musicais, quer dizer, maçãzais, chamou seus melhores amigos: e vieram, Joãozinho, Paulinho, Georginho e Ringuinho. Gostaram da ideia da maçã cortada ao meio e colaram no meio do disco que fizeram. Acharam aquilo bonito e não pararam mais de fazer música. Neste meio tempo, Branca de Neve, uma amiguinha de nossos amiguinhos foi comer da maçã e quase teve um catiripapo. Tava envenenada.
Mas parece que realmente havia uma Maldição da Maçã, como ficou conhecida. Evinha e Adãozinho foram expulsos do sitio do seu avô, Newtonzinho quase morreu quando a maçã caiu-lhe na cabeça. Joãozinho levou um tiro nas costas e Georginho morreu de câncer. Ringuinho não sabia cantar e Paulzinho vendeu a tal da maçã para Michaelzinho que morreu de overdose de brancurite aguda no miocárdio. (A parte interna da maçã é fatal é o que dizem).
E agora o Stevenzinho, um bom menino, mas que ousou morder um pedaço (puxa, meu deus, era só uma mordidinha!?) da maçã e morreu também de câncer tal como o Georginho. 
Tô preocupado. Minha mamãe comprou uma cesta de maçãs para fazer uma torta. Será que devo comer?