sábado, 16 de dezembro de 2017

Balanço de Fim de Ano DISTOPIAS

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Arcimboldo 

Balanço de Fim de Ano
DISTOPIAS

A eleição de Trump, o golpe de Temer, a ascensão do perigoso menino mimado, kim Jong Un e a constatação de que o mundo, apesar de muitos esforços, virou de cabeça para baixo é um alarme que se soou tarde, ainda é possível pensar sobre o que somos, o que temos, o que queremos e ficar, lutar e resistir.
A distopia é o contrário da utopia. Na distopia, um mundo de ilusão foi criado com o intuito de empossar um regime político totalitário, mantido por uma minoria. Como consequências temos modos de privação extrema e desespero de um povo que tende a se tornar corruptível. 
Alguns livros foram feitos ícones deste mundo distópico. Assim que Trump venceu nos EUA, "1984" romance de George Orwell disparou entre os mais vendidos da Amazon. Isto ocorreu logo após a Conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, usar o orwelliano termo "alternative facts" (fatos alternativos) em uma entrevista. 1984 parece ser um retrato fiel da distopia do Governo Trump. 
Seguiram o livro de Orwell, "O conto de Aia" #rocco (relançado este ano pela Rocco), "Admirável Mundo Novo" (1932) de Aldous Huxley são outros livros que tratam do mesmo tema: uma sociedade distópica que muito nos lembra dos anos de chumbo da ditadura que atravessamos.
É preciso aprendermos na velocidade de um terabyte por segundo sob o custo de ficarmos congelados pela mão de ferro daqueles poucos que sugam por ganância as últimas precariedades do povo.
A despolitização do imigrante tem feito dos refugiados uma indecente questão ética e moral. Te acolho desde que você deixe de ser que você é (religião, crenças, modos de ser, política) e passe a ser como eu sou. Ou seja, apagamento das diferenças. É uma tragédia sobreposta a outra.
Infelizmente não acredito em milagres. Os fervorosos do terceiro milênio que me desculpem, mas tenho aprendido que só pelo esforço contínuo é que podemos empreender dias melhores para todos nós.
Somos humanos e de nós é possível esperar absolutamente tudo. Para lembrar do filme de Glauber Rocha, tenho a certeza que temos dentro de cada um de nós um "Dragão da Maldade contra um Santo Guerreiro". Precisamos ter a liberdade de escolha. Não há maior liberdade do que essa. A liberdade de escolher para que lado vamos atuar. De Hitler a Gandhi, podemos ser quem quisermos. A crescente política de direita tem assustado mais do que pensávamos tal como um retorno do recalcado.
É verdade. O mundo odiosamente se polarizou assim. Muros de palavras ou de concreto são construídos e aprendemos a deletar com muita naturalidade o outro de nossos ódios. Tornamo-nos produtos perigosamente descartável nas mãos do Outro.
Testemunhei na pele, na carne, no coração e na alma um episódio.
Um tsunami poucos avisos dá. Ou não acreditamos que ele possa ter a força com o qual ele se mostra e quando percebemos só podemos remediar e tentar reparar os estragos para seguir do jeito que é possível. 
Tornamo-nos cada vez mais egoístas e covardes? Freud dizia que a consciência fazia de muitos de nós covardes.
Mas, como havia dito que tudo possui dois lados diametralmente opostos, o mundo abriu as portas de um novo que será para sempre um amor renovado ao longo dos dias.
Tenho aprendido a cada dia a deixar pesos desnecessários, e creio, que às expensas destas distopias que andam crescentes por aí, existem pessoas às quais tenho me aproximado que também me abriram o olhar para um novo tipo de relação afetiva que pretendo que seja "e-terna enquanto durar". São pessoas que partilham do ofício da psicanálise, da literatura, das artes, antigos amigos, novas amizades, enfim, o mundo que se recria "apesar de", como disse Clarice Lispector.
Faço da leitura um lugar só meu, e no entanto, partilhado na transmissão e no compartilhamento. Lugar outro, quase sagrado e, se tudo caminhar como previsto, mais dois livros devem chegar em 2018.
Não sei para onde caminharemos em 2018. Ano decisivo e de eleições na triste e sombria crise político-econômica que nos abateu. Um crise também moral e ética. Sobretudo ética.
Mas caminho na certeza do meu melhor. O que lá pode não ser muito. Mas é meu. E o que de mim transbordar, que possa ser o meu melhor para vocês também.
É o meu desejo de Ano Novo.