quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poesia Erótica

 Gustav Klimt The Virgin

Poesia Erótica

Falar do erotismo é uma tentação e um perigo. Tentação porque o tema por ser demasiadamente humano, corre o risco de se tornar banal, e um perigo porque corremos o risco de não querermos mais falar de outra coisa de tanto que o tema nos excita. O erótico não é o pornográfico. O pornográfico é sem sal. Alguns podem até achar que dá tesão, mas é muito mais insosso do que o erótico que apenas insinua, quase revela ou ainda que um véu, um pequeno véu, recubra um mistério a ser desvendado. No pornográfico a palavra está escandida ou substituída apenas por algumas interjeições que tentam inflamar a monotonia do coito superlativo. No erotismo, e George Bataille sabia disso quando escreveu  A história do olho, com todas as metáforas que vocês quiserem e puderem fazer com este tal de olho. Dois adolescentes a experimentarem os prazeres do olho. Ele não nos diz do olhar que seria outra coisa, talvez mais ao gosto sublimatório. Bataille não nos faz concessões, ele vai fundo ao mais fundo do que se possa ir em relação ao olho até arrancá-lo do touro e comê-lo frio numa bandeja oferecida ao menino e a sua devassa namorada. A história escandalizou tanto ao próprio Bataille que ele não teve coragem assinar seu nome e inventou um pseudônimo, mas mesmo assim não esqueceu a ironia escatológica. Deu-se o nome de Lord Ausch que é Deus cagando(quem nos explica é o próprio Bataille numa entrevista muitos anos após a publicação do texto).
Mas o livro desta resenha é mais ameno, mas não menos erótico. Chama-se Poesia Erótica (Companhia de Bolso) com tradução de José Paulo Paes, o que já é uma garantia de boa leitura. O livro em versão bilíngue vai dos Gregos, passando pelos alemães e italianos da Renascença aos franceses surrealistas.  A poesia erótica não trata obviamente apenas de Eros e seus priapismo fálico, mas também de dois temas caros ao erotismo: amor e morte. Talvez salvo apenas por Safo de Lesbos e a poesia mística de Santa Teresa de Ávila, a poesia erótica é predominantemente masculina, mas nem sempre machista, pois a homossexualidade se escondeu inúmeras vezes por detrás de versos dúbios e cheios de duplos sentidos.  
Como disse no início, o tema é vasto e tentador. O melhor mesmo é ir direto aos poemas e deixar que vocês se deliciem através dos tempos; dos tempos eróticos das palavras.
Amo três gestos teus quando, senho,
Me incendeias do teu próprio fogo.
Te serves do meu corpo, minha boca
Sorves na tua, me penetras...
És poderoso, vivo, estás feliz.
Mas depois disso cada minuto é meu. Giosi Lippolis (poeta italiana da atualidade)

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A três homens eu, Lide, servi com a maior presteza:
Um sobre o ventre, outro debaixo e o outro atrás.
Recebo pederastas, mulherengos, extravagantes.
Se tendes pressa, que entrem os dois sem hesitar. (Antologia Grega)

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Sou eu, mulheres, abro o meu caminho,
Sou severo, cáustico, indissuadível, mas amo vocês,
Não as machuco mais que o necessário a vocês mesmas,
Derramo a substância geradora de filhos e filhas dignos destes Estados,
Assedio com músculo pausado e rude,
Me firmo eficazmente, não dou ouvido a rogos,
Não ouso retirar-me sem depositar o que há muito acumulei dentro de mim. (Walt Whitman)
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(...)E essas nádegas ainda, lua de dois
Quartos, alegre e misteriosa, em que depois
Irei alojar os meus sonhos de poeta,
Meu terno coração e meus sonhos de esteta!
E amante, ou melhor, amo em silêncio obedecido,
Reina ela sobre mim, o seu servo rendido. (Verlaine)
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A indecência pode ser normal, saudável;
Na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
Para a manter normal, saudável. (D.H. Lawrence).
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Se você, prezado leitor(a) se excitou, então corra ( não, não pense bobagens!)
para a livraria mais próxima e compre o livro para se deleitar com as outras poesias.  
Carlos Eduardo Leal
Psicanalista e escritor
Para quem gosta de ler ouvindo música: Anonimus: cd de música vocal renascentista, pelo selo Niterói Discos.

3 comentários:

Teresinha Oliveira disse...

Escrever poesia erótica exige talento maior, cuidados para não escorregar na vulgaridade. Mas, pensando bem, o que há de vulgar no amor carnal?
A palavra 'Luxúria' é linda, como linda é sua ação nos versos que um talentoso poeta escreve.

Valéria Teixeira disse...

"Quero conjugar um verbo em tua pele
e inventar novas palavras para teu corpo.
Eu-pele
tua-pele
dorso azulado,
tua pele em mim
roçando sentimentalidades
lubrificando estados de alma.

Quero conjugar um verbo em tua pele
em teus cabelos negros
em tua boca rubra
e deixar escorrer
este verbo pelo teu corpo
para transformá-lo em carne
saborosa
saboroso encontro
de peles/delícias
nos olhares conjugados."
(Carlos Eduardo Leal poeta da atualidade)

Abraços,
Valéria

Anônimo disse...

Excitei-me e comprei-o!