Criança é uma palavra futuro que brinca com (o) presente.
Noutro dia encontrei João Luis que brincava de soltar pipa. Foi quando o vento ficou muito forte e levou o menino aos céus. Olhei-o espantado. Eu estava trêmulo, mas ele me sorria lá do alto como se sempre morasse por lá entre as nuvens. O vento não amainava e eu tentava enroscá-lo na outra pipa para puxá-lo para a terra firme. Mas, aos poucos percebi que não só ele estava contente por estar entre as nuvens, como possuía o controle para permanecer lá. Gritei-lhe com todos os pulmões. Ele sorria e queria me dizer alguma coisa, mas a distância e a força do vento arremessavam sua pequena voz por detrás das montanhas.
Mas, de repente, um vento mais forte me levou também pelos ares. Num instante a terra ficou pequenina. Eu estava eufórico e logo percebi a felicidade no rostinho do João Luis. Ele conseguia fazer bichos com as nuvens. E qual não foi a minha surpresa quando descobri outras crianças no meio de outras nuvens fazendo formas ainda mais divertidas com elas: canguru, boi da cara preta, vaca, elefante, formigas tanajuras, enfim, o zoológico era uma manada ilógica para a racionalidade, mas muito natural ali no céu da infância.
Mas logo uma outra nuvem muito espessa foi se aproximando. Era estranha e de certa forma ameaçadora. Havia um barulho que parecia um trovão (fato que me pareceu natural em se tratando de nuvem, mas não me parecia ser de chuva). Logo percebi que era uma gritaria. Era uma nuvem carregada de crianças de diversas nacionalidades, crenças religiosas, classes sociais, econômicas. Ou seja, crianças do mundo inteiro que brincavam na mesma nuvem na maior alegria.
Uma dúvida agora balançava minhas ideias: as crianças eram felizes apenas naquele céu ou porque ainda não havia caído sobre suas cabeças a chuva da intolerância e do ódio derramada pelos adultos?
Quando descesse iria perguntar ao João Luis. Ele sempre me surpreende com sua imaginação.
Certamente as crianças nos ensinam coisas para as quais nossos olhos já cegaram.
11 comentários:
Adorei! Essa "inocência alegre" e leveza da criança misturada à dura e pesada vida dos adultos ficou muito legal. É, nada como uma criança para trazer vida a um adulto. E essa "vida" podemos perceber no olhar de cada pessoa apenas depois de conhecermos uma criança.
Lia Senra Lessa.
Só os poetas-crianças podem brincar nas (com) as nuvens. Lindo, lindo, lindo!
M.Senra
Hoje passei o dia com minha filha em programações recreativas, mais de uma vez ela me mostrou este lado que esquecemos. Como é fácil para uma criança tocar o outro sem se importar com diferenças de qualquer aspecto.
Tocante ^^
Muito lindo o que escreveu, mas vou te dizer uma coisa: Essas crianças não existem. Elas fazem parte da imaginação de Aureliano Buendia. Bjs em ti e em Gabriel Garcia Marques por ter me dado 100 anos de solidão e nunca mais sai deles.
Lia,
Lindo o teu nome. Já é de quem lê...lê as nuvens, as cores, as notas musicais, os voos dos passarinhos.
Um encanto. :)
Obrigado pela tua leitura sensível, Monica.
:))
Vinícius,
Pois é, as crianças sempre me ensinam.
Abraços ao pai que você é!!! :)
Marcia,
Escrevi sobre isso q vc diz sobre entrar nos livros e não sair mais. Os 1oo anos foi um deles que só encontrei a porta de entrada...rs
Bjs
Isso parece coisa de Sítio do Picapau Amarelo... Agradeço por ter uma menina linda aqui em casa que me ensina a cada dia, borboleteando pelas nuvens da fantasia. Minha filha. Obrigada, amigo, porque lembrei-me da infância, querendo caçar nuvens. Abraço da Renata.
Obrigado, sempre , Renata. As crianças nos ensinam mesmo, né?
abçs
Alegria em ti encontrar aqui, "entre nuvens", quando acabei de ler seu livro O CÉU DA AMARELINHA. Maravilha de livro. pra quem ama literatura e subjetividades, como eu. Adquiri seu livro na Littera e fiquei pulando "amarelinhas"...descobri que estava na casa 9: Fui andar no Parque Nacional... um grande abraço, parabéns pelo livro e obrigada!
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