Retomo meus amanhãs. Minhas memórias inventadas na infância. Memórias que fabrico na saudade dos dias e na felicidade dos reencontros. Reencontrar-se com o passado é fabricar amanhãs. Fábrica preciosa de palavras, letras e textos que escorrem prateados de estrelas. O hoje é apenas ponte entre passado e futuro e, por isso, deve ser construído com as mãos cheias de outros pequenos trechos da vida. Hannah Arendt sabia disso. Clarice Lispector vivenciava isso, não-sem sofrimentos, e Stéphane Mallarmé jogava com seu dia quando dizia que "um lance de dados jamais abolirá o acaso". O hoje, nascimento diário, surpresa por ter acordado e saber-se vivo, precisa ser fabricado e não importa de que material você o fabrica. O que é importante é que este material seja verdadeiro, honesto para com você mesmo. Ética, dirão alguns.
Alguns fabricam seus dias com Pina Bausch, outros com Chet Baker, outros ainda com Baudelaire, Rimbaud, Drummond, Freud, Pessoa, Almodóvar, Frida Kahlo e Diogo Rivera. Alguém me puxa pela manga da camisa para dizer: "ei, espera aí. Eu fabrico meus dias com Einstein e relativizo tudo." Paro atento e sorrio um meio riso relativo. Fico feliz porque esta pessoa me retribui com a generosidade da curva do seu tempo.
Seguir em seu dia acompanhado da leveza do encontro é morrer um pouco. E se é feliz quando se morre um pouco. Não-todo. Porque nestas pequenas mortes você tem a possibilidade de dar lugar para renascer amanhãs.
6 comentários:
TExto espetacular Carlos Eduardo!
"Reencontrar-se com o passado é fabricar amanhãs."
Estou em Montevidéu fabricando amanhas...
Beijos
Anne
Este texto me encantou!
Beijo grande,
Bartyra
Que lindo, Carlos Eduardo!
Estou ainda mais sentida de não poder estar no cartel com um mais-um tão interessante...
O virtual talvez ocupe um cadinho deste lugar impossível no momento!
Um grande abraço
Ane (de Ribeirão Preto)
É muito bom vir aqui!!!
Bjkas e boa semana!
Carlos Eduardo..
Adorei seu texto..principalmente a idéia de "fabricar amanhãs"!
Beijos
... é verdade... fabricar amanhãs me parece essencial após a leitura do seu texto... obrigada! beijos, renata
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