João Luis não sabia o que
era o amor. Sua mãe avisou que não era negócio seguro não. Pegava, virava ao
avesso e depois deixava assim na grama sem desvirar feito jabuti. Achou
engraçado porque gostava de desvirar jabutis. Tinha lá seu quinhão de sabedoria
e alguma astúcia ao fazê-lo. Seu vô disse: o retorno do vento no rosto é
garantia de enamoramento. Se nos olhos entrasse poeira, areinha que fosse, e
lacrimejasse, era amor na certa. O certo é que João Luis tinha uma árvore que
era só sua. Ficava lá no mais alto dos morros do sítio. Assim: havia um
descampado, e no meio do nada do capim, brotava imensa, majestosa e com copa
suficiente para abrigar o menino e sua enorme imaginação. Da sombra assentada
sobre o capim, sombra que balançava e voava nas horinhas do dia, João Luis
sentava e fertilizava amores por aquela árvore. As raízes eram o prolongamento
de suas ideias e seus braços esticavam tanto que faziam cosquinha do verde das
folhas com o azul do céu. De lá avistava o mundo. Diante de seus olhos
descortinava um vale e vez por outra, algumas vacas e inúmeros passarinhos. O
amor por aquela árvore havia fisgado nos olhos e na carne macia de sua alma.
Reciprocidade e reconhecimento não eram nomes ditos pelo avô Chico, mas era
sentimento que transbordava sem carecer de palavras. Dizem que até hoje, face
enrugada, olhos cansados de marejar a vida, o menino ainda aparece por lá
naquele amor só dele. Amor endoidecido de menino pela natureza nunca careceu de
razão não senhor.
Carlos Eduardo Leal
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