quinta-feira, 27 de junho de 2013



Tinha descido as escadas correndo e não vi que um pedaço do meu vestido havia ficado preso em tuas mãos. Foi um descuido, eu disse. Você sorriu coçando a barba e pediu para ficar com aquelas minúsculas flores azuis sobre fundo branco. O que você vai fazer com elas? Plantá-las. E, assim, dia após dia verei crescer teus esquecimentos, teus pequenos e doces descuidos nas nuvens do meu jardim. Sorri encabulada. Sorriste com delicadeza masculina. Este teu sorriso que desde o primeiro dia anunciou turbulências festivas em meu coração. Demos as mãos. Já não sentia a falta do pedaço do meu vestido. Já não sentia a falta de um pedaço de mim e, no entanto, mal sabia sobre minhas feminilidades. Mal sabia sobre minhas fronteiras onde sempre me desabitava. Despir meu eu era o que mais sabia fazer. Era como tirar a própria pele e ficar em carne viva ardendo de desejos. A vida já me dera o espanto de ser, mas agora eu queria o espanto de não ser. O doce espanto de deixar ser levada pelo desconhecido e sorrir sobre a queda quando não houver mais bordas nem anteparos. Só o firmamento. Quero te beijar. E o silêncio arfante foi o bastante para aquela madrugada.

Um comentário:

Regiane. disse...

Belíssimo poema Edu, bjOs. Gostei muito parabéns.