Tinha descido as escadas correndo e não vi que um pedaço do meu vestido
havia ficado preso em tuas mãos. Foi um descuido, eu disse. Você sorriu coçando
a barba e pediu para ficar com aquelas minúsculas flores azuis sobre fundo
branco. O que você vai fazer com elas? Plantá-las. E, assim, dia após dia verei
crescer teus esquecimentos, teus pequenos e doces descuidos nas nuvens do meu
jardim. Sorri encabulada. Sorriste com delicadeza masculina. Este teu sorriso
que desde o primeiro dia anunciou turbulências festivas em meu coração. Demos
as mãos. Já não sentia a falta do pedaço do meu vestido. Já não sentia a falta
de um pedaço de mim e, no entanto, mal sabia sobre minhas feminilidades. Mal
sabia sobre minhas fronteiras onde sempre me desabitava. Despir meu eu era o
que mais sabia fazer. Era como tirar a própria pele e ficar em carne viva
ardendo de desejos. A vida já me dera o espanto de ser, mas agora eu queria o
espanto de não ser. O doce espanto de deixar ser levada pelo desconhecido e
sorrir sobre a queda quando não houver mais bordas nem anteparos. Só o
firmamento. Quero te beijar. E o silêncio arfante foi o bastante para aquela
madrugada.
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Um comentário:
Belíssimo poema Edu, bjOs. Gostei muito parabéns.
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