O dia estava por findar. Pouco havia sobrado das minhas palavras. Talvez
algumas letras esquecidas no chão. Talvez alguma que contivesse pedaços do teu
nome. Olhei incrédulo. Estava lá. Só não sabia que podia estar. Mas eu também
estava e o chão era o que nos acolhia quando as horas eram insuficientes. Disse
para você que a vida era insuficiente. Você não quis me ouvir e arriscou. Eu
também fui no seu risco, no seu traço, na sua maneira delicada e feminina de me
conduzir nas minhas cegueiras atemporais. A palavra transbordava
sentimentalidades que não cabiam em nossos corações. Era a tal insuficiência em
ser, em crer que a vida também podia ser. Ser o quê? Pouco importa meu amor.
Você disse. Eu acreditei na palavra. Era o que de melhor nós tínhamos nas insuficiências
do dizer.
Olhei de novo para o chão. Era um chão de estrelas. A noite havia
chegado. Você aquietou meu frio e ajudou a recolher as letras que também
continham meu nome. Juntamos nossas mãos e ao mesmo tempo, numa cumplicidade
que só o amor verdadeiro pode sentir, jogamos todas as letras para o alto. Elas
voaram. Elas voaram para bem longe. Para um lugar em que nossos nomes fossem
estrangeiros para nós mesmos: a insuficiência é um lugar desabitado de
territorialidades. Desterro. Desterro e paixão. Desta matéria, húmus, são
feitas as palavras. O resto é o que nos acolhe/escolhe. Deambulo: livre matéria
a procriar nomes.
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