sexta-feira, 14 de junho de 2013

Letras ao chão


O dia estava por findar. Pouco havia sobrado das minhas palavras. Talvez algumas letras esquecidas no chão. Talvez alguma que contivesse pedaços do teu nome. Olhei incrédulo. Estava lá. Só não sabia que podia estar. Mas eu também estava e o chão era o que nos acolhia quando as horas eram insuficientes. Disse para você que a vida era insuficiente. Você não quis me ouvir e arriscou. Eu também fui no seu risco, no seu traço, na sua maneira delicada e feminina de me conduzir nas minhas cegueiras atemporais. A palavra transbordava sentimentalidades que não cabiam em nossos corações. Era a tal insuficiência em ser, em crer que a vida também podia ser. Ser o quê? Pouco importa meu amor. Você disse. Eu acreditei na palavra. Era o que de melhor nós tínhamos nas insuficiências do dizer.

Olhei de novo para o chão. Era um chão de estrelas. A noite havia chegado. Você aquietou meu frio e ajudou a recolher as letras que também continham meu nome. Juntamos nossas mãos e ao mesmo tempo, numa cumplicidade que só o amor verdadeiro pode sentir, jogamos todas as letras para o alto. Elas voaram. Elas voaram para bem longe. Para um lugar em que nossos nomes fossem estrangeiros para nós mesmos: a insuficiência é um lugar desabitado de territorialidades. Desterro. Desterro e paixão. Desta matéria, húmus, são feitas as palavras. O resto é o que nos acolhe/escolhe. Deambulo: livre matéria a procriar nomes.

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