quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Eclipse: uma história de amor


Ainda era cedo, quase madrugada, quando levantei um pouco estranho. Havia claridade e o céu tremulava um azul através de uma brisa moderada. Calcei o dia como pude e sem me virar um côvado para o ontem (eu tinha razões de sobra para esquecê-lo), desamarrei-me pelo pomar, atravessei meus pensamentos, subi uma montanha e avistei picos de mim mesmo no topo de outras montanhas. Andava assim naqueles dias:   recendia a sentimentos inacabados e transbordava arritmias que mais me decompunham do que me elevavam. 
Do passado meu coração suspirava saudades, mas do futuro alimentava um vício. Talvez um dos piores: a esperança. Ontem havia chovido muito. O suficiente para encharcar o dia. Não havia palavra que pudesse ser estendida no varal sem que algumas letras caíssem. Nosso encontro tinha sido remarcado para hoje. Esperava muito por este dia. Sim. Era você quem eu queria na flor de nossa adolescência. Um primeiro amor. Nele tudo é possível, me confidenciaram. Tudo cabe, todas as possibilidades existem como um céu a desfraldar. 
O lugar não poderia ser mais romântico. Embaixo de uma enorme árvore (meu Baobá), a única que ficava no topo da montanha mais alta do sítio de meu avô. 
Uma lufada de vento anunciou sua chegada através do perfume dos teus cabelos. Era você que se anunciava antes da sua beleza física, antes de seu olhar doce, antes que a alça de seu vestido caísse de um de seus ombros. Antes que seus cabelos voassem mais alto que os pássaros. Por uma pequena vereda você veio caminhando como se não encostasse os pés no solo. Tal como Gradiva, você flutuava ao meu encontro. Estávamos a menos de dois metros de distância, nossas mãos quase a se tocar como se saíssem faíscas através de nossos poros, nossos hormônios, quando o dia foi virando noite. A lua, caprichosa, foi se intrometendo entre o sol e a terra. E tudo escureceu a nosso favor pois éramos iniciantes e tímidos em nossos corpos. Neste momento mágico, o mundo todo parou. As guerras cessaram, os pássaros estancaram seu voo, ninguém morria, ninguém matava, não havia dor e uma paz reinou absoluta. As árvores não se moviam, as formigas interromperam sua marcha, nenhum som era ouvido a não ser o dos nossos corações acelerados. nada existia fora de nós dois. Naquele momento entendi o que era a eternidade. Naquele instante, que durou toda minha vida, descobri com você o que era o amor. Na noite em pleno dia, a grama foi a única testemunha do suor de nossos corpos. Naquela escuridão provocada pelo eclipse lunar, iluminamos a vida. 

6 comentários:

Silvia Varela disse...

Esse instante de lê-lo vai durar toda a minha vida... Que lindo!!!!!!!!!!!!!

Mônica Brito disse...

Me lembrou Fernanda Torres descrevendo a primeira transa no filme EU SEI QUE VOU TE AMAR: -"...Meu Deus é Natal!..." É Festa do Interior!!!

Teresinha Oliveira. disse...

Inveja, pecado capital. Pagarei por mais esse, não me furto. Amor assim é coisa rara. A gente cata por essa vida, mas raramente encontra. Não me recordo, mas alguém já disse:"amor verdadeiro é igual a fantasma, todos acreditam, mas poucos o viram."

Leitores do Mira disse...

Que lindo texto romântico, Eduardo. Por alguns instantes senti uma nostalgia...
Bj Adriana.

Anne M. Moor disse...

Carlos Eduardo

Quando eu crescer quero escrever que nem tu! Que história bem linda! Que escritura bem brilhantemente bem feita. Uma leitura deliciosa!

beijos
Anne

Silvia King Jeck disse...

Ai meu Deus! E se eu te disser que ando trilhando caminhos semelhantes?
Eu tembém queria ser tu para escrever assim.
bjo