domingo, 12 de setembro de 2010

JOSÉ


Cristo na Cruz - Salvador Dali

JOSÉ

Olhos cobertos de lágrimas
ombros curvos
asfixiado, mãos atadas
pelo destino
que era, é e será.

Pouco a fazer
pelo filho
ali exposto
quase nu
ensanguentado
mãos perfuradas
olhos ao céu,
arregalados
dizia em súplicas;

Pai, por que me abandonaste?

gritava o filho,
condenado.

E ele,
José,
ali, ali para sempre (invisível),
perguntava
porque seu filho
não o fitava.

Por que não era ele?
Por que não era?
Que fosse ele, o pai,
no lugar do
do filho.
Por que não?

Carpinteiro,
lançou último olhar
para a lasca
de vida
pendurada.

O filho em cruz,
suspenso no ar
e o pai,
ínfimo na terra,
sem entender
porque o filho
agiu, agia e agirá
deste modo.

Por dentro,
o pai gritava
silencioso:

Filho, por que me abandonaste?

6 comentários:

:: mar.cele linha.res disse...

"a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você?"
drummond

o que fazer qdo parece que não há o que ser feito?!

beijo

Unknown disse...

Um verso forte
e uma pergunta que não tem resposta...
Abandonar é tão subjetivo...
Acho que antes de tudo, Cristo abandonou uma parte de si. A parte que incluia tudo o mais que se plantasse no chão...
Mas aí já estaria respondendo a pergunta de José. Eu não ousaria...
Lindo poema. Lindo mesmo.

Anne M. Moor disse...

Será que nós não nos abandonamos sozinhos? O que será que leva as pessoas a se abandonarem? A luta precisa continuar para que 'nos' achemos novamente e novamente - quantas vezes forem necessárias nénão?

Teu poema me deixou speechless!! Muito lindo!

Beijos com a fala recuperada :-)

Anne

Unknown disse...

Lindo!!!

Anônimo disse...

olhos cobertos de lágrimas são os meus, lagrimas de emoção. linda poesia que tocou fundo o coração da sua amiga aqui tão devota de josé, de são josé.
adorei carlos. há tanta delicadeza na sua escrita que não me esqueço jamais de você,
um beijo saudoso,
marianna

Anônimo disse...

Oi Carlos Eduardo,

Associo a uma dor que não gosto de lembrar... Em se tratando de pessoas da família, é forte demais. Fui a única a assistir o meu pai falecer do coração, num ataque cardíaco fulminante.

Mas Este aí, Jesus, carregava em sua dor, o peso da salvação da humanidade. Despertar em nós que morrer em nome do amor, é entregar-se na plenitude, em consideração a nossas vidas. Imagino a força que José precisou possuir, quiçá Maria.

Beijos e uma boa semana,