terça-feira, 21 de outubro de 2014

A eleição de um povo


   


A partir desta eleição quem ganha é o povo brasileiro. 
Tudo começou com um pequeno, mas abusivo aumento da passagem de ônibus. E a revolta contra o governo, os desmandos, contra os assaltantes de colarinho branco, foi o estopim para o povo brasileiro acordar. A imagem dos estudantes subindo a rampa do Palácio do Planalto e as sombras dos estudantes sobre as sombras do poder ficou como ícone da insatisfação do povo brasileiro contra o status quo. Depois as revoltas populares se intensificaram pelos estados e acabou perdurando aqui no Rio de Janeiro contra a figura emblemática de Sérgio Cabral. 
Como bom ópio do povo, a Copa interrompeu o ciclo das revoltas, mas felizmente não voltamos ao estado de sonolência. As eleições estão aí para demonstrar o grau de amadurecimento do povo brasileiro. Nunca havia visto tal fato político tão marcante. Nunca havia presenciado nós brasileiros tão engajados numa disputa e discussão sobre as disputas eleitorais. O fato político é este: os brasileiros não querem mais ser iludidos por qualquer falácia persuasiva. É claro que os Collors, os Malufs, os Barbalhos, os Sarneys e tantos outros ainda estão por aí e, como mortos-vivos nos assombram. Mas eles terão o seu fim. Acredito que esta discussão que o Brasil está passando é um amadurecimento da jovem democracia nacional para um estágio no qual as ideias estarão na pauta do dia a dia do brasileiro.
Não nos esqueçamos de que saímos recentemente de uma longa ditadura.
Estamos aprendendo. Vamos seguir no debate. O calor das diferenças produz embates sim. O vigor da democracia é lento. Rápida é a ascensão totalitária que monopoliza e ensurdece o povo para o livre pensar e para a voz em construção. Ainda desafinamos, mas pouco a pouco o coro dos descontentes e afinados com o Brasil vai mostrando a sua cara. Antes, só os artistas é que eram formadores de opinião. Hoje, o povo é que prova ter opinião. Hoje o povo vota já quase nacionalmente sem cabresto. A unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. Mas o não-todo já constitui uma expressiva vitória. Uma mostra nacional de um povo que quer construir sua própria história e não mais ficar sentado à beira da estrada vendo-a passar.
Sem luta e sofrimento não se faz uma verdadeira nação. Isto também faz parte de um sistema democrático.
Mas tenho absoluta certeza de que ganhe quem ganhar, é o povo brasileiro que sairá mais cônscio do seu dever com a pátria e menos alienado destas eleições.

Com João Ubaldo exclamo: Viva o povo brasileiro!

Carlos Eduardo Leal

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