O Jardim das Delícias - Hieronymus Bosch
A BÍBLIA POÉTICA
Gênesis
A criação dos céus e da terra e de tudo o que neles há
Caos, turbilhão, trevas
Incógnita infinita:
Deus é Deus antes da criação
Do homem que nele habita?
O que havia antes de Deus?
O que existia antes do
Verbo?
Dúvida não existia
Por não haver espaço para a
pergunta.
Silêncio, silêncio, silêncio.
No princípio, o nada
Ausência do vazio
Tudo é nada
Tudo é Deus e
Deus criou a ação.
´Primeiro motor universal`
Topus Uranus,
Deus transcende a própria
criação
Ele se cria e se recria
Deste movimento criacionista
Pura explosão – Big Bang
Há 15 bilhões de anos atrás
Vai surgindo o caos de tudo
que será ordenado
Sopa de letras, palavras
divinas
Para o homem-futuro
desfrutar.
Palavras reservadas para
tábuas da Lei
Palavras para Abraão,
tentação para Jó, Lot, cânticos para Salomão/
Epístolas para Corinthios,
para o batismo e para Herodes
Palavras, tristes palavras,
maldições. sedições e salvações
Palavras, elas todas,
despidas ainda
Porque a vergonha não havia
Palavras não faltam e ao
homem tudo será destinado nomear
Criar Babel e elevar
palavras ao céu,
Palavras reservadas para uso
de Maria e José
Palavras para atravessar
mares
Palavras para a glória,
palavra / de tropeço,
O mal não é o que entra pela
boca, mas o que sai dela.
Palavras para transformar
água em vinho
Palavras para salvar
Deus se recria
E é desta recriação que
surge o universo
O Universo é criado a partir
da recriação de Deus
O Universo é uma recreação
divina.
Deste movimento espiralado
Destas circunvoluções sobre
si mesmo
Deste momento único,
indescritível e infinito
Pela beleza incomparável,
infinita beatitude
Bondade infinita / Clarão
eterno
Feito para aquecer, feito
para esfriar
Feito para nascer / feito
para cegar.
A Luz jorrava num gozo de
cores.
Da pura luz branca que
irradiava
Nasceu o primeiro anjo
Envolto pelo manto de luz
Também luz divina ele
irradiava.
Sua luz era tão intensa que
Deus lhe deu um nome:
Estrela-da-Manhã. Deu-lhe o
nome que quis, pois
Poderia ser
Estrela-que-não-dorme / Estrela-queda.
Primeira estrela de uma
constelação de anjos
Infinita espiral
Criados também pela luz alva
que Dele irradia
A cada anjo que nascia
Deus acrescentava em sua
branca luz
Uma pincelada de outra cor.
Só o primeiro anjo
A Estrela-da-Manhã
permaneceu
Imaculadamente branco em
luz.
Os anjos subiam e desciam
Num celestial movimento
Pelo facho branco-azulado de
luz
Emitido pelo Criador
Entre céu e terra
Entre o imemorial e o finito
Entre o insciente e o
perceptível
Entre o nada-antes e o
porvir.
Transportavam pedaços do céu
Para a terra.
Água-fogo-terra-ar, foram os
primeiros
Quatro elementos essenciais
à vida que surgiram.
Tétrada superior, Deus
estava neles
E eles representavam uma
parte de Deus.
Deus, também tetragrama
intraduzível,
Vai desfazendo parte de seu
enigma
Mistério insolúvel
Em sentimentalidades
apalpáveis
Doçuras de amor
Transubstancialidades
divinas em terrenas
Quatro elementos essenciais
à vida
Deus vai revelando sua luz
espiralada
Em condições de
possibilidades
Para que da invisível luz
O mundo se torne plausível /
fértil de possibilidades
Crescei e multiplicai-vos ainda
viria em mandamento
A vida apenas iniciava sem
Jardim
Habitável em sua
consistência.
Agora, céu e terra
Água e fogo,
A luz jorrou
Viu que era boa
Pois havia sombras para
clarear,
Havia fogo para a água deter
Havia o céu para a Terra
alcançar
Deus criou diferenças.
Houve noite
Trevas, o luto do dia
Não, não era o mal
Era o primeiro dia.
Os céus e a terra
Ainda agonizavam a separação
Quando entre as águas
Deus criou mais terras.
Ali estava o mal?
Não, o homem-criatura ainda
não havia.
Sem suas pegadas na areia da
manhã
Só Eolo alisava dunas e as
movia em graça divina /
E transportava grãos.
Polinização era o
Que não havia /
Pois de tudo Deus,
Em sua graça infinita,
gerava.
A Estrela-da-Manhã
O primeiro anjo, tudo
observava
Achando-se, como
primogênito,
Também com direito
A usufruir da criação.
Queria pisar amanhãs
Ser senhor dos homens
Ainda por vir.
Ele, já era para mau uso: o
Mal.
Proto-Insubmisso
Que futuramente cairia como
Lúcifer
Para também prover,
zelosamente,
A queda do futuro homem.
Início da luta entre o bem e
o mal
No meio de tudo
Um ser vivente que pensa /
fala
Glorifica, exulta
Recua, amedronta, treme e
teme.
Pequena Tátil. Pobre irmã.
Primeiro o caldo,
Depois firmamento entre
A água e a água, a separação.
Vagas caudalosas
Para onde olharia em abismo
A criatura.
Labirinto por fazer
Deus mais do que nunca
neste momento foi, é, e será
não havia ainda o tempo.
Manhã, tarde e céus
veludo negro de referências
acima, abaixo, direita e esquerda
são um só no segundo dia /
Caos ordenado e outro dia
por fazer.
Viu Deus que isso era bom
e Deus havia criado
mesmo que ele não quisesse
a bondade. Mas isso também
estava
incluído em seus planos.
Protoprincípio, Protopai e
Abismo.
Incompreensível e Invisível
Eterno e Ingênito.
Abismo, Silêncio, Nous e
Verdade.
Abismo, Nous, Logos e Homem.
Pela segunda vez
As águas se separarão das
águas
Para dar lugar à porção seca
E a criação do Deus-Terra.
Até o antes, Deus era também
o nada
Vazio e caos Ele era, depois
Deus não criava só o mundo
Ele também se multiplicava.
Anunciava-se em calor e
frio,
Úmido e seco / tempestades e
potestades
São a Ogdôada da Potência
Divina.
E a sua semente caiu na
Terra
Frutificando em relvas,
campos,
Árvores de todas as espécies
Pois todas as espécies eram
Deus.
E o Deus de todas as
espécies também foi criado...
E, com ele, o terceiro dia.
Deus, se já experimentara
satisfação
Antes do primeiro
terroso,
Foi a de salpicar o
firmamento
De estrelas, cometas e
galáxias,
Buracos negros, curvas
imemoriais e
Meteoros que riscam o espaço
Ao encontro do infinito.
Pura beleza de traços
luminosos
Que num átimo de segundo
Demonstram a velocidade de
Deus.
Deus-raios, Deus-cometas,
Deus-Luz. Marca seu
território /
E o infinito se cria
Em sutilezas e mistérios.
Recônditos do amanhã
No insolúvel das almas.
A dimensão é o todo
E tudo é o infinito em Deus
O princípio e o fim ... se
houvesse.
Noite e dia, sol e lua
Luzeiros das estações
Dos dias, meses e anos
Deus revelava seus sinais
Sagrados em sua
extemporaneidade.
Manhã, tarde e trevas
mais amenas, ainda
longínquas
Estrelas salpicadas
Sobre o quarto dia.
Haja vida e vida houve
Nos céus os pássaros (corpos
ainda intraduzíveis,
andorinhas em revoada, o
peso da gravidade no ar /
um céu a conquistar /
as espécies por voar).
A insustentável leveza do
Ser ganhava equilíbrio -
tentando ser invariável com
o tempo -
Para alçar vôos mais altos
Para além da mortalidade
Onde tempo nenhum existe
Onde insiste todo o tempo do
mundo: invisível.
Nos mares anêmonas, peixes
abissais
Procuram seus lugares na
invenção
Rios, lagos, mares
caudalosos, serenos
Pássaros e peixes
testemunham o quinto dia.
Deus viu que era bom
Ter vida através dele
Ainda não havia morrido um
só peixe
Nem nascido um só pássaro.
Todos coabitavam a
existência ex-nihilo...
Todos, sem exceção, tinham a
mesma idade
A idade da Potência Divina.
Um novo ato
Desta vez prometido à Terra
Um destino,
Deus ousou sobre todos os
outros dias
Do barro terroso surgia um
sopro divino /
Deus inaugurava sua Capela
Cistina.
Animais selvagens,
domésticos,
Quadrúpedes, bípedes,
Répteis rastejantes - as
serpentes -
Povoem a terra conforme a
sua espécie
Em quatro, duas ou nenhuma
pata
Corram nos campos, planícies
ou mata,
Subam árvores, desçam
montanhas, percorram mares,
Povoem cavernas. Habitem a
Terra /
Arejem com ninhos os céus.
Deus viu que isso era bom
Mas que não tinha ninguém
para vê-lo /
Tendo soprado à sua própria
imagem
Fez vir do barro o homem. Deus,
orgulhoso de sua imagem,
Passou a ver-se em espelho.
Reflexo de si /
Imagem infinita
Inaugural:
Crescei e multiplicai-vos.
Deus, especular, infinito,
dizia a si mesmo.
Deus viu que o que fizera
Era muito bom
Pois era Ele mesmo
Deus-Céu, Deus-Mar,
Deus-Terra,
Deus-Fogo,
Deus-Homem.
Deus olhou toda sua criação
Durante seis dias ele olhou
Firmamento, águas, terra
Toda a população vivente
E o olhar de Deus era zeloso
Porque olhava para si mesmo.
Foi só no sétimo dia
Que Ele descansou
- precisava?
Seu olhar, ato criador
Potência divina
Potência de luz
Jorrava em cada um
E cada um emanava
A sua parte concedida:
Palavras em abundância
Transmitindo para sempre
A luz primordial.
A formação do homem
Deus criou do pó da terra
De um sopro o homem se
formou
O hálito da vida nas narinas
E o hálito de Deus foi a
alma humana.
Deus criou o homem num
deserto /
De ideias, pensamentos e
ciências.
Fez surgir um Oásis /
Jardim das Delícias - Éden
E o colocou no centro
Da primeira metáfora.
A Estrela-da-Manhã
A tudo continuava
atentamente observando.
E maravilhado com esta
criatura
Assim disse ao Criador:
- É minha esta
criatura-homem.
Vou ter-me com ela na Terra.
Vou ensinar-lhe
Tudo o que ela quiser desde
que seja minha.
Serei fiel à sua condição de
humano,
Estarei sempre ao seu lado,
satisfarei todas suas vontades /
Desejos ardentes e
satisfações da carne.
Revelarei todos os
mistérios, desde que seja eternamente meu.
Deus lhe disse – Teu desejo
é a tua queda.
Perderás teu lugar no céu
por causa desta criatura?
- Por acaso não o fizeste
para que ele o adorasse? Perderei com intenso prazer este lugar aqui no céu mas
em troca terei meu reinado sobre a terra, respondeu já demoniacamente o
anjo-de-luz. Para que a criatura o adore, continuou ele, terá que se haver
comigo e eu serei as trevas de seu desejo, tentação da sua alma, inquietação da
sua existência. Provocarei e farei provações em seus caminhos para que ele
tropece. Onde colocares luz, serei sombra e morte; mortalha que cegará sua
eternidade.
Enquanto falava isso, sua
luz antes alva, jorrava negra. Seu antigo brilho, outrora tão intenso perdia
seu viço, sua luz em eterno degradée,
diluia-se em negritudes abissais.
A seguir foi envolto num
manto de tristeza e escuridão.
- Saia Satanás, pois já não sois
mais do reino dos céus.
- Meu reino será a terra e
meu instrumento para tortura, o homem. Feito de barro será frágil, quebradiço e
facilmente o colocarei contra Ti. Sua fraqueza será minha força e a fé que nele
restar eu domarei com meus cães de fogo. Aquele a quem fizeste para lhe adorar,
eu o possuirei.
- O meu amor, dissse Deus,
será maior que sua maldade porque sou o que sou: infinito.
- É o que veremos! É o que
veremos! Serei infinito enquanto durar o último homem! Findarei quando morrer a
vida na terra. Brandiu o desafiante Lúcifer.
Foram suas últimas palavras
antes da sua queda do reino de Deus.
Deserto de idéias
De conhecimento
Do bem, do mal
O homem nasceu
Na insciência.
Três rios inauguravam o
jardim
E, antes que o terroso
pudesse
Batizar seus pés nas águas
Deus proferiu sua primeira
interdição.
Ali no meio há uma árvore
A árvore do conhecimento
Do bem e do mal não provarás
Se saciar esta fome, ela te
matará.
Porém Deus não impediu o
homem de ter fome...
E Deus estava em tudo
Estava na fome do homem
E Deus era a fome do homem.
Queria se saciar Nele
E Deus viu que isso também
era bom.
Deu-lhe partes de si: alguns
frutos, algumas sementes e peixes em abundância. Fome de Deus era o que ainda
não havia, pois Ele estava ali. A infinita fome do Criador só se abrirá como
uma chaga
Algum tempo depois quando o
primeiro homem não morar mais no Jardim. Triste paradoxo: finito, sua fome será
eterna.
Nomeou aos animais o homem
Um a um nomeou
Havia ali alguma sabedoria
Mas as palavras continuavam
nuas,
Mas ainda não havia nascido
a vergonha.
E a fome também era fome
Por um semelhante
Não-todo, não-toda melhor se
diz
Pois foi durante o sono do
homem
Em seus sonhos,
Sonhos de Deus, por que não,
Que a mulher foi concebida
para
Saciar a Vontade de Criação.
A formação da mulher
Deus quis que o homem se
sentisse só
Porém o homem como não
experimentara
A companhia de outro
semelhante
Ignorava sua solidão.
E já era Lúcifer o nome da
solidão do homem.
Então, porque sabia o que
era solidão
Deus disse:
Não é bom que o homem esteja
só
E sozinho o homem dormiu
Pela primeira vez.
Quando acordou julgou ser
Outro ele mas quando falou
O outro ser, as palavras já
não
Estavam nuas mas eles não
sentiram
Vergonha dos corpos nus.
A solidão se amarrava em
laços
De ossos: costelas é o que
se diz.
Laços umbilicais ainda eram
o sopro divino.
Uma fina corrente dourada
descia dos céus e alimentava
A fome do homem.
Deus disse:
Osso dos meus ossos
Carne da minha carne
Somos um só
Pois ainda guardas
As minhas palavras. Assim
deverá ser para sempre.
Deves sempre andar nas
minhas palavras. Carregue-as dentro de ti
Pois estarei com você para
todo o sempre.
Lúcifer, atento, criava o
esquecimento.
A palavra divina ressoava
No homem, na mulher
De forma imperiosa
Porém uma voz arrastada
Naquele solo virgem
Fazia-se ouvir da sagaz /
Serpente.
Assim...
Houve um anjo que em sua
descida,
Como todos os outros faziam
Para transportar os céus
Para a terra,
Resolveu ser
Senhor-de-Si-sobre-a-terra.
Para tanto, subjugaria a
criatura humana
Criada à imagem de Deus.
Se ele caiu, que caísse
também o humano.
O demônio decaído, tentaria
para sempre
Apartar a religação do homem
com Deus.
Sua astúcia? Fazer o homem
acreditar
Em sua não existência.
A queda do humano
Sustentou-se por pouco /
Capilar momento da história
A breve e fugidia certeza da
Eternidade no homem.
O veneno da palavra
rastejante
Diz à mulher inverdades /
Que não morreria
Se provasse do fruto /
Delito
Do meio e que
Viveria como Deus
Sabedor do bem e do mal.
Olhos arregalados é o que
tereis...
Esqueceu-se de dizer
A que tinha o veneno nas
palavras,
Que os olhos se abririam
para a morte
Que os olhos não teriam mais
norte
Cegos estariam para além do
próprio umbigo
No centro do bem e do mal,
está a morte:
Sorrindo.
A mulher provou do fruto
impróprio
Tendo gostado do que comeu e
viu
Deu ao homem a chance de
vê-la
Ao dar-lhe o saboroso fruto.
A palavra já não era nua
Sua precariedade deixava
revelar
Contornos, relevos,
reentrâncias
Que não cabiam em nenhum
grito.
Exultante, o homem queria
gritar
A beleza revelada, mas as
palavras
Tropeçavam em sua boca.
Onde havia a nudez pela
pureza das palavras
Agora havia um hiato entre
elas
E este hiato entre uma
palavra e outra,
Afânise do humano,
Era Lúcifer.
O tropeço - equívoco de
palavras -,
Desencontro de línguas
Era o regozijo da Babel
rastejante.
A vergonha dos corpos nus
Foi o primeiro conhecimento:
letal.
E a desobediência, a ira do
Senhor.
Com o pecado
Criou-se a inocência
Tardia para evitar
O precipício criado
Para a queda do humano.
O precipício, a queda
Tudo é criação
Serpente, homem, mulher
A maldade está no terroso
Não em Deus
Deus viu que isso era bom.
E os olhos de Deus também se
arregalaram...
E maldisse à mulher:
Sofrerás para ter filhos
Serás filha do sofrimento
Pois teu desejo pertencerá a
teu marido
E ele te governará.
Doravante o homem
A cada manhã da vida
Lutará para soerguer-se
Na luta contra a queda
Derramada ao sopro do dia.
E maldisse também ao homem:
Maldita será tua terra
Teu pão será temperado
Com teu suor salgado
Da fadiga de todos os dias.
Deus, por sua vontade
Fez morrer alguns animais
Não, não foi o homem quem os
matou
Pois Deus queria vestir Adão
e Eva
Agora nomeados
Mais com peles do que com
palavras.
Jardineiro zeloso
Esmerado na poda
Consistente no cultivo
Deus viu que o homem
Aquela primeira semente
Não dera o fruto esperado
Deveria, portanto, ser
procriado
Para fora do Jardim.
O Éden ficaria para
sempre
Como a saudade jamais
reencontrada...
Abel e Caim
Uma única geração os
separava
Além, é claro, da voz de Deus
- não é o bastante?
Abel e Caim, filhos dos
filhos do Jardim
Filhos caídos do humano
E de sua queda,
Nunca desejaram retornar?
Nunca lhes foi contada
A primeira história de pai
para filho?
Transmissão herdada: cabala
de palavras inaugurais?
Nunca, travessos, desejaram
ludibriar
Os querubins ao oriente, e,
aos jardins,
Por entre as sombras,
retornar?
Ao jardim da infância dos
seus pais?
Caim e Abel,
Infância perdida no pecado
dos pais,
Adolescência postergada
Trabalho por diversão
O primeiro, servidor do
terreno
O segundo, pastor de ovinos.
De suas produções ofertaram
Ao Senhor
Ao Senhor, frutos da terra
Ao Senhor, entranhas e
gorduras animais.
Deus-arbitrário desdenhou as
ofertas /
Primeiro holocausto
Do primogênito,
Preferindo as do segundo.
Caim revoltado contra o
Senhor
Cometeu o primeiro
assassinato
Contra a escolha de Deus
Inaugurando o fratricídio.
Caim, homem do campo
Arrasta Abel para o campo
Da morte.
Abel, primeiro homem a
morrer
Caim, o primeiro homem
Do fruto do primeiro pecado
De Adão e Eva.
“Morrerás, morrerás”
Inaugura a genealogia.
Caim, primeiro filho do
humano
Primeiro assassino
Carrega consigo a primeira
mentira:
Deus pergunta
Onde está seu irmão
Não sei, não sei, mentiu.
A mentira era O conhecimento
Da árvore que se deveria
evitar
“não sei” guarda uma verdade
Um Outro sabe
Não, não é Deus.
Segunda expulsão na Terra:
Caim banido da tribo /
Constrói a primeira cidade
Um assassino é seu fundador
Moléstia transmitida:
assassinatos, crimes /
A outras gerações de cidades
Aos filhos, dos filhos, dos
filhos
Do filho.
Caim, homem da posse
Abel, inconsistência,
vaidade, fumaça
Abel se esvai, Hèbèl, Hèbèl,
Hèbèl
Sem vestígios ou progenitura
O primeiro holocausto
Precede ao assassinato.
Maldito!
Maldito!
Vocifera o
Senhor
Mais onipotente
do que nunca
Perplexidade
e paradoxo
Deus condena
Caim
A sofrer da
terra
Errante e
fugitivo
E, ao mesmo
tempo amaldiçoa
Vingando por
sete vezes
Quem abater
Caim.
A
descendência de Adão
Gerou tantos
filhos
Durante
tantos anos
Que gerou
também...
A corrupção do gênero humano
A queda...
O homem é mau
A maldade ronda-lhe o espírito
multiplicada por mil estrelas-da-manhã.
'O meu espírito não agirá para sempre no homem'
'Então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra'
'Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei...'Gn, 7.7
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