quarta-feira, 13 de março de 2013
Noites azuis de Van Gogh
Nas noites azuis de Van Gogh
estabeleço tristezas indefiníveis
contornos sem abraços / traços
meridianos sem fronteiras.
A vida segue ferindo
a vida segue ferina
contorcendo-se como uma cobra que engole
o filhote de um animal.
Rugindo como o vento
quando encontra uma fresta
numa noite fria de inverno.
Abocanhando como um sapo quando engole
um inseto.
Os azuis de Van Gogh são belos e tristes.
Na Noite Estrelada
Nos Campos de Trigo
Sou o corvo que voa assustado
Sou a estrela que se assusta
na tinta em movimento.
Os azuis de Van Gogh dominam a minha vida
desde a infância / ânsia.
Lembro de Van Gogh em mim
ainda pequenino
franzino / menino
assustado / en-cantado
olhinhos manchados pelos azuis
que escorriam sangue azulado.
A noite é fria
a imagem é muita
tanta que não a absorvo
de uma vez
como se toma uma sopa
quente.
Como Van Gogh pelas beiradas.
Tenho medo...
e fascínio.
A loucura me invade
e me debruço sobre ela / tela
com a intensidade das pinceladas:
estarreço / emudeço
vivo / descubro
outras cores / dores
vangoghianas.
Me refaço nos azuis.
Hoje o holandês é o mais lírico
em sua loucura /
sua maneira de ser Quixote
que ao invés da lança alçou
pincéis...
O cinzel afiado perfura sonhos,
densidades de tinta.
O azul cerúleo escurece.
É a noite gritam trovões
É a noite gritam canhões
O sol se opõe a noite...
Dois sóis surgem no espaço azulado
É Van Gogh, grito assustado.
É Van Gogh...
mas ele já não me ouve.
É Van Gogh, ainda tento mais uma vez
com a voz já rouca.
Estarei enlouquecendo?
É Van Gogh, tento convencer-me.
Mergulho inutilmente em seus azuis.
Meus olhos se mancham novamente
com os azuis.
Do espaço vejo que a Terra é azul.
A Terra é Van Gogh
A Terra é Van Gogh
A Terra é...
... e minha voz já não ecoa cores
elas, assim como minhas palavras,
não se propagam no espaço
sideral.
A vida é Van Gogh...
Suspiro leve
quando o azul
adormece no infinito
da Noite Estrelada.
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Um comentário:
Em setembro passado estive sentada exatamente no local em que ELE pintou Noites Azuis. Foi uma emoção tão forte que eu perdi as palavras e me inebriei de imagens, sons e pensamentos que voltaram no tempo.
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