sábado, 18 de fevereiro de 2012

A horta de minha bisavó


Minha bisavó plantava palavras na horta. Era pra ser escondido de todos. Pra que isso, vó? perguntei inquieto. Bisbilhotice de menino que descobre segredo proibido. O que você faz aqui a esta hora, menino? To espiando vó. Só isso, respondi encabulado. Ela descansou a terra sob suas mãos e sorrindo disse: letras, palavras que precisam ser adubadas. Elas um dia vão crescer e virar histórias. Como as que a senhora conta? Melhores, meu neto. Impossível porque as da senhora possuem a sua voz melodiosa.
Seus olhos encheram d'água. Com as mãos negras de terra me afagou os cabelos. Duas ou três letras rolaram pelo meu rosto. Ainda não formavam uma palavra, mas senti o gosto de uma intrigante história por vir. Que história a senhora está plantando, vó? A fantástica história de um menino bisbilhoteiro. Cúmplices, sorrimos com os olhos.
Com as mãos trêmulas de emoção abri um buraco na terra adubada e ajudei a plantar algumas palavras...

2 comentários:

Teresinha Oliveira disse...

Esses textos 'familiares' são maravilhosos. Fazem com que lembremos da nossa própria história. Agorinha, pensei nas colchas de retalhos que minha avó emendava em sua barulhenta máquina de costura. E os sapatinhos de tricô? Dezenas. Promessa p/ santo. Depois eu conto. Vc. está se tornando inspiração... :0)

Telma Cutnei disse...

Hoje você fez escorrer,palavras,frases inteiras dos meus olhos. Você com estes seus textos incríveis,me transporta para um mundo mágico e feliz,a nossa infância.
Horta,pomar,curral, açude, tiro ao alvo, bambuzal(amo), galinheiro...
Ah como eu amava depois do almoço sentar na varanda pra ouvir as histórias da Vovó Tavinha,enquanto debulhávamos milho,com o qual iríamos no final da tarde alimentar as galinhas...
Saudades dela,do Tio Waldir, que adorava fazer medo na gente,e depois nos fazer enfrentar o medo, lembra? Eu nunca fui medrosa,e acho que por causa dele,sempre nos fazia desvendar o mistério do medo.
Saudades de todos,saudades de nós...
Ah se eu pudesse congelar o tempo...
Como eu não pude, gostaria muito que você escrevesse para mim,"segura meu ganso" que minha memória misturou com outras histórias da vovó Tavinha.
Você vai morar junto com todas estas lembranças eternamente no meu coração.
Mil bjs.