domingo, 23 de outubro de 2011

Poltrona imortal



Meu avô lia
A vida
A vida também ia.

Meu avô morreu
A morte
Dele também findou.

Agora sou eu
A ler, solitário
A vida.

A poltrona
Permanece, imóvel 
Imortal.

Lembro suas mãos
Que liam, ávidas
Virando pensamentos.

Aqui estão 
O cheiro, a voz
Pássaro desfolhado.

Ficou um vazio
Não é céu, nem limbo
Saudade, sim.

Há uma biblioteca
Enorme, vazia
Na poltrona.

Meu avô
Em silêncio, imortal
Fazendo ausência.

Eu sentado
Lendo, no silêncio
Seus restos.

7 comentários:

Rosi Rodrigues disse...

Nessa poltrona, a gente trás todos aqueles a quem amamos e um dia se foram...só restando-nos a eterna saudade...

Anônimo disse...

de faltas, de silêncios e de restos também se vive.
também de infinitivos construímos a nossa vida.
bj, poeta.

Anônimo disse...

Vida imortal. Amor imortal. Ritual imortal. A poltrona, um templo para evocar a magia, de mãos pensantes, presentes, repletas de doces lembranças que levamos, posto nossa herança até o céu.

Tão sensível, tão bonito!

M.Senra

Carla Ceres disse...

Lindo poema, Carlos Eduardo! Parabéns!

Anne M. Moor disse...

Carlos Eduardo

Nostalgia, saudades de tanta coisa...

beijão
Anne

Silvia King Jeck disse...

Essas memórias doces e ternas vêm embaladas também em canções. Meu avô, seu rádio capelinha e os fados que me ninavam.
Bjo, Silvia

Morgana Gazel disse...

Lindo, um poema que não desperdiça palavras ao evidenciar o ciclo da vida, morte, vida.