Meu avô lia
A vida
A vida também ia.
Meu avô morreu
A morte
Dele também findou.
Agora sou eu
A ler, solitário
A vida.
A poltrona
Permanece, imóvel
Imortal.
Lembro suas mãos
Que liam, ávidas
Virando pensamentos.
Aqui estão
O cheiro, a voz
Pássaro desfolhado.
Ficou um vazio
Não é céu, nem limbo
Saudade, sim.
Há uma biblioteca
Enorme, vazia
Na poltrona.
Meu avô
Em silêncio, imortal
Fazendo ausência.
Eu sentado
Lendo, no silêncio
Seus restos.
7 comentários:
Nessa poltrona, a gente trás todos aqueles a quem amamos e um dia se foram...só restando-nos a eterna saudade...
de faltas, de silêncios e de restos também se vive.
também de infinitivos construímos a nossa vida.
bj, poeta.
Vida imortal. Amor imortal. Ritual imortal. A poltrona, um templo para evocar a magia, de mãos pensantes, presentes, repletas de doces lembranças que levamos, posto nossa herança até o céu.
Tão sensível, tão bonito!
M.Senra
Lindo poema, Carlos Eduardo! Parabéns!
Carlos Eduardo
Nostalgia, saudades de tanta coisa...
beijão
Anne
Essas memórias doces e ternas vêm embaladas também em canções. Meu avô, seu rádio capelinha e os fados que me ninavam.
Bjo, Silvia
Lindo, um poema que não desperdiça palavras ao evidenciar o ciclo da vida, morte, vida.
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