sábado, 15 de outubro de 2011

Desajeitos

Desenho de Tim Burton

Desajeitos
                 Pensando em Fernando Pessoa (ler com sotaque português)


Sou um sujeito desajeitado para a vida
Sou um sujeito desalinhado para nuvens e abridores de garrafa.
Às vezes a vida me suga, noutras me ferve.
Sinto-me inútil para olhar um pôr de sol /
Talvez uma abelha assim o fizesse melhor do que eu /
Talvez uma centelha incendiasse meus dias.

Sim, tudo é sempre um talvez a amaldiçoar o quase
Como se fosse possível pescar horizontes.
Sinto-me desajeitado com as moças de olhares lânguidos
Sinto-me igualmente desajeitado para o futebol dominical.
Ah, quantas vezes pequei por errar o drible
Quantas vezes pequei por desviar o olhar das mulheres sorridentes e travessas,
Quantas vezes errei por dizer a palavra que ficou muda em meu peito.

Dói roer a corda que se colocou ao redor do pescoço para se enforcar.
Se ao menos eu soubesse como fazê-lo...
Sinto-me desajeitado para tuas mãos, para tuas coxas.
Sinto-me desajeitado para teus cabelos quando me caem aos olhos.

Tudo me é fardo e cardo.
Tudo grita e desconsola.
Tudo é tão pouco
Para um amor tão louco.
Não. Meu amor não é pouco.
Louco, sim.
Pouco, não.
Este é o meu estar desajeitado.
Estar sujeito a desajeitos d’alma.
Queria escorregar minhas mãos sobre tua pele.
Queria olhar dentro de tua alma e fazer amor a sós com ela.
Mas meu mundo grita. Meu mundo não desconsola.

Sou um sujeito desajeitado para a vida.
Noutro dia abracei o teu nome.
Coloquei-o em meu colo.
Dei-lhe carinho, beijei teus olhos.
Beijei tua boca carmim, teus seios alvos,
Tuas coxas aveludadas e teu sexo úmido.

Sim, sou um sujeito desajeitado para a vida.
Abracei-te tanto, tanto e tanto
E, com tamanha força dos meus pulmões
Que acabei por esquecer o teu nome.



3 comentários:

Silvia Varela disse...

Nossa Carlos, que lindo! Que lindo! Que lindo!!!!!!

angela disse...

Pessoa ficaria todo bobo de se ver assim homenageado... com tamanha intensidade!!!

Tai Schneider disse...

Intensamente arrebatador! E não posso deixar de comentar o abraço cheio de respiração. Adorei!