quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre Alberto Giacometti

Tudo está por um fio. Sempre se está em perigo. Alberto Giacometti

A paixão pelo inacabado.
Desde que o conheci, ando sofrendo de Giacometti. Eu sou um destes traços, esquálidos, quase indefiníveis, que testemunham desaparições. Restos. Sou a tinta que se esvai numa compulsão frenética, apaixonada, como quem não consegue terminar a obra. Sempre por fazer. Sempre por acabar. Inconclusa. In-finita. Jean Genet disse que suas obras só poderiam sair de um lugar. De um lugar de onde não se volta: da morte. Sombras, vultos, corpos em magreza-de-movimentos. Mas, com uma força de levantar todos os mortos de seus sonos atávicos.
Sim, estou, estamos nas esculturas e pinturas de Giacometti. Somos ossos, sempre a nos restar. Somos traços nervosos como no retrato de James Lord (primeiro da esq. p/ a direita na segunda fileira). J. Lord, o crítico americano foi visitá-lo em Paris e faria uma entrevista com ele. Giacometti se ofereceu para pintar seu retrato. Lord adorou a ideia. Escreveria sua matéria e ainda ganharia um quadro de ninguém menos do que Giacometti. Pois o pintor não conseguia acabar de pintar seu rosto dizendo que era impossível capturar a alma humana. E J. Lord dizia que ele era um mestre exatamente em capturar em suas pinturas a essência da alma humana. James Lord tinha ido passar uma semana e já estava lá há um mês. No dia seguinte a cada tentativa, Giacometti apagava obsessivamente o rosto e o repintava. Tendo observado isto, J. Lord passou a fotografar em segredo todos os quadros antes que Giacometti voltasse para apagá-lo. Lord não escreveu uma matéria para sua revista. Escreveu um livro com todas as fotos que parecem a mesma. Isto levou seis meses. J. Lord teve que pedir duas vezes autorização à sua revista para permanecer em Paris. Este quadro ai acima é uma das inúmeras variações... ao infinito.
Como se livrar do Giacometti que me habita? Talvez escrevendo? Talvez. Não é preciso. Seguro? Nem pensar. Mas escrever é arriscar-se. Na vida. Então, como dizia Lacan, sobre a cena do mundo (de Alberto Giacometti) eu avanço. Não quero mais me livrar dele. Que ele habite minhas palavras-sombra.
Lord, James. Um retrato de Giacometti. Iluminuras
Genet, J. O ateliê de Giacometti. Cosac & Naify

5 comentários:

Casa de Mariah disse...

registrar é um perigo. o que a gente escreve torna-se (inquestionavelmente) real.

IsaBele disse...

Que bom não poder dar-se por acabado. São nossa infinitudes que nos fazem querer ficar por aqui, e transmutar sempre que possível.

Abçs!

Anne M. Moor disse...

A incompletude de nossas vidas passa por tanta coisa...

beijo grande Carlos Eduardo

Anne

Ana Valeska Maia disse...

Olá Carlos,

Bom encontrar teu blog, entrelaçando mundos.

Também adoro Giacometti!

Te enviarei um email sobre o documentário.

Bjs.

Ana Cecília Moura disse...

Confesso envergonhada que não conhecia o artista. No entanto, fiquei encantada com as esculturas e com o texto.
Obrigada pela referência.