quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Ileanova


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Ileanova


Eric abriu a primeira página do livro. Não. Antes abriu a folha de rosto. Gostava deste nome: folha de rosto. Como se o livro fosse a delicadeza de toda a cabeça por desvendar. Da primeira até a décima segunda página ele devorou em poucos minutos. Daí veio a surpresa. Era Ileanova. Mais nova do que ele um ano e fazendo anos no mesmo dia e mês. Era ela. Era ela que ele sempre buscara. Estava ali dentro do livro. Tão próxima e, no entanto, tão distante. Parecia poder tocar-lhe o rosto. Deveria ser a tal folha de rosto que agora queimava as mãos e o coração saracoteava irrequieto.
Mais estranho tudo parecia ficar quanto mais ele avançava na leitura. Ela parecia compreender o que se passava dentro de sua vida, pois o que ela falava era o que ele tanto sonhava em ouvir. Tira-me daqui de dentro, ela implorava para Eric. Ileanova, uma garota russa de 23 anos, esguia em seus 1,87m, cabelos negros curtos, olhos verdes, campeã nacional de salto em distância no ski na neve e que nas horas vagas saltava de parapente nas montanhas geladas, ou na famosa e perigosa Passagem Diatlov.
Aventura era o que Eric sempre buscava. Ele também gostava de ski e aos 18 anos foi vice-campeão europeu em slalom. Nascera nos Pirineus, filho de uma professora de filosofia e um pai que tinha uma serraria. Sua vesguice era seu charme que os cabelos avermelhados encobriam. Forte como um cabrito montanhês, mas sensível como sua mãe. Eric encontrara em Ileanova a parceira ideal para sua vida.
Ela insistentemente pedia para que o bom Eric a retirasse de dentro daquele livro. A cada página, uma nova angústia. Certa manhã, lá pela página 325, Eric acordou muito cedo, tomou café, pegou sua bike e foi até o banco da pequena cidade em que vivia. Lá retirou toda sua economia que havia ganho em prêmios nas competições.
Pegou um trem até Bilbao, passando pela charmosa San Sebastian e dali até Milão e de lá um avião para Moscou a fim de encontrar Ileanova.

No afã de sua paixão, Eric havia esquecido o livro dentro de sua mochila. Nunca soube o que acontecera ao final do romance com a garota russa. Cego de amor acabou por confundir ficção com realidade e casou-se com a primeira garota moscovita que se interessou por ele.  

Carlos Eduardo Leal 

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