quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ELA (HER) Filme

Ela é um filme de nossos dias. Das cyber relações, do imaginário idealizado de uma voz. Quem é o Outro? Um sujeito ideal. Ideal justamente porque não existe. Ideal porque a voz "deseja" aquilo que você sonha em realizar. A fantasia do Outro ideal é completada imaginariamente e isto produz felicidade para estes tempos de desamparo, isolamento e medo de relacionamentos. Um OS (abreviatura para Sistema Operacional) perfeito para quem quer se deixar iludir porque este Outro-do-humano que também suspira, arfa, tem ciúmes, mas está sempre disponível. Porém, e quando a ilusão acaba? E quando a consistência do imaginário fica doída no desamparo do abraço inexistente do Outro?
Um filme com uma atuação marcante de Joaquin Phoenix e a voz de Sacarlett Johansson.
Um filme para nossos dias e além. Mais, ainda. Um gozo da voz, uma pulsão invocante (que sempre retorna como um gozo a mais. Ela, Samantha, sempre sabe mais e mais infinitamente) e o retorno que produz equilíbrio, tranquilidade e paz. Não era isto que buscavam os estoicos ou Aristóteles em sua ética? A mediania que levaria o ser humano a Virtude e ao Bem Supremo? A eterna busca pela felicidade (eudaimonia) e tranquilidade?

"Viver uma vida feliz, irmão Gálion, todas as pessoas o desejam, mas quando se trata de compreender em que consiste a vida feliz, tudo se torna menos claro; por isso, não é fácil conseguir ter uma vida feliz e, se nos enganamos no caminho, quanto mais nos apressamos em obtê-la, mais dela nos afastamos: quando se segue o caminho contrário, a velocidade só aumenta a distância."

Da Vida Feliz, I, 1. Sêneca
Carlos Eduardo Leal
Ps: E a trilha sonora é ótima.
 

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