domingo, 29 de abril de 2012

O espelho seduzido - Parte II


Pin-up


A sedutora lança-se ao mar bravio de ondas gigantescas, assim como se lança no silêncio das madrugadas. Adora desafios.

Sua roupa íntima: vermelha, branca ou preta. Não importa. Desde que insinue transparências.

A sedutora nunca está disponível, mas ai daquele que não estiver para ela.

A sedução é uma arte, assim como a poesia é um dom.

A sedutora deixa o longo pescoço à mostra. Apetitosa que é, está sempre à espera da mordida que a envenene ainda mais.

Os lugares mais impensáveis do seu corpo são apenas pequenos precipícios para o que estará por vir.
Seios incandescentes, coxas torneadas, quadris esfogueados, mãos com nuvens que crepitam raios nas pontas dos dedos. Este conjunto a faz irresistível mesmo que seu corpo seja tudo isso às avessas.

Os pontos fracos da sedutora são o veneno de quem ousar provar e o declínio fatal para quem ousou não provar.

Uma sedutora traz sempre em seu corpo um livro com as páginas em branco. Ela não precisa ler, mas eles precisam escrever sobre ela.

Quem ousa trair uma sedutora terá a difícil tarefa de provar de sua doce vingança. "Tarda, mas não falha" é seu ditado predileto para estas ocasiões. Aliás, todo cuidado é pouco. Este ditado lhe cai como uma luva para muitas outras situações.

A sedutora nunca tarda. Sua presa é que se impacienta antes da hora.

A hora do bote, como o salto do leão sobre a presa, é sua arma fatal para fazer do tempo sua estratégia infalível. Fazer do tempo do outro seu próprio tempo é torná-lo submisso aos seus caprichos.

A sedutora nunca falha. Se ela não veio ao encontro foi para evidenciar o quanto ela se faz presente com sua ausência.

A sedutora é uma presença-ausente que faz emergir a saudade. Disto ela retira proveitos para o futuro.

A sedutora é uma boa jogadora: ela sempre antecipa dois ou três lances.

Ela se faz de vítima infeliz para agarrar sua presa. Mas também é assim que exerce sua tirania.
 



terça-feira, 24 de abril de 2012

O espelho seduzido

pin-up


O espelho seduzido - Parte I

A sedutora possui todas as armas para seu ofício, mas não usa todas...de um vez. 
A sedutora não economiza olhares. Mas não os usa em vão.
O espelho da sedutora reflete um pequeno véu de renda preta que encobre sua alma não-toda.
Não amou só aos homens. Amava as meninas em formação. Sobre elas nutria o prazer de mostrar-lhes o mundo através das lentes das suas sutilezas.
Quando ela pinta os cabelos é para disfarçar de si mesma a noite anterior.
Quando menina, pediu a sua mãe para cortar os cabelos bem curtinhos. Assim, podia conversar sem ser notada, olhando dentro dos olhos dos meninos. E, de lá, extraía-lhes a confissão desejada para o seu aprendizado.
Casou-se algumas vezes. Nunca quis filhos. Queria os homens.
A sedutora não faz exigências aos homens, porém estes a obedecem em tudo.
A sedutora não tira as roupas. Apenas finge que as tem.
A sedutora não chora por qualquer coisa, mas chora quando ela quer que o(a) outro(a) perceba.
Não lhe falta o arroubo nem a impetuosidade para a conquista. Ela é capaz de ser uma criança emocionalmente frágil e dependente para conquistar seu homem, mas uma "expertise" se tiver que ser fria para desprezar o que não quer mais. 
Nada engana mais do que uma sedutora que finge deixar-se seduzir. Ela apenas prepara a segunda jogada.
A roupa não é necessariamente a sua arma, mas sim a maneira como a retira.
Instruir-se em sua arte é algo que a sedutora nunca deixa de fazer: sua curiosidade por saber sempre mais a conduz através dos livros, cinema e arte cênica.
Parágrafo único: ela é insaciável.
Gosta de ser deliberadamente despudorada. Principalmente quando seu amante mostra-se tímido. Porém, tudo que ela faz com ele é como se ingênua fosse e nunca houvesse feito a corte mais que a um cãozinho. 
De sua sedução só o tempo a corrompe. 
Quando vê uma rival não mede esforços para eliminá-la. E, para isto, usará de todos os meios: da vingança à ardilosa humilhação pública. 
Aliás, fica-se em dúvida se ela fareja com maior ardor sua rival ou sua vítima. 
Dificilmente engana-se, mas alvo fácil não significa presa fácil. Porém o prazer da conquista está na demonstração da sua força para realizá-la.
Por vezes gosta de ser "obediente" e a tudo satisfazer seu "amo" só para depois exigir submissão.
Gosta do jogo dos opostos, das cores, do chiaro-scuro magistralmente pintado por Rembrandt. Gosta de ser escrava para depois escravizar. Gosta de ser masoquista para depois tornar-se a mais bela sádica. Gosta de desejar um mestre para depois governá-lo.
A sedutora sabe o que deseja, mas não o que lhe falta.