As Cores do Inconsciente
Por
que as cores do inconsciente? Por que um psicanalista se dedicaria a pintar
quadros? Porque a vida não cabe apenas na tela imaginária da mente. É uma
resposta? Não. Um percurso. Posso dizer que nasci com Van Gogh me iluminando,
pois em todos cômodos de minha casa tinha a reprodução de um quadro dele. O
louco e genial holandês. Aquelas cenas das telas nunca saíram da minha cabeça.
Quando fui estudar psicanálise me interessei muito por sua vida e li com avidez
as Cartas a Theo. Talvez a loucura, o inconsciente a céu aberto e as cores
tivessem ficado em mim mais do que eu supunha. De início, o figurativo me
chamou para dentro das cenas como descreve Maurice Merleau-Ponty as obras de
Cézanne: o pintor chamado para dentro da paisagem. Com o psicanalista também
nasceu o poeta e o escritor. Aí já estava o inconsciente transbordado para as
palavras. Num determinado momento o psicanalista descobriu que o homem que o
habitava precisava se iluminar. Descobriu que as palavras tinham cores e cada
cor possuía uma forma, um contorno, uma densidade de massa textual diferente.
Volumes, formas e cores que um dia deram-lhe medo, agora eram jogadas com
impetuosidade e paixão sobre as telas. Óleo, acrílica, aquarela, carvão, lápis,
tudo era amalg(a)mado para o mundo onírico. Não foi apenas uma necessidade que
tomou conta da vida do psicanalista. Antes. Foi uma paixão muito mais forte que
o próprio homem que o habitava. Assim como o inconsciente habitou o
psicanalista, assim como os personagens habitaram o escritor, as cores do
inconsciente também passaram a habitar o pintor. Esta exposição é o triunvirato
artístico como resultado daquilo que não cessa de pulsar: a vida como outro
modo de ver o mundo. Um mundo inacabado que ainda espera pela próxima
interpretação, pela próxima palavra, pela próxima pincelada...
Carlos
Eduardo Leal Nov/2015
Um comentário:
"Aquele que ama muito realiza grandes coisas,
e o que se faz por amor está bem feito."
[cont´m 1 beijo]
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