terça-feira, 26 de novembro de 2013

 
O Jardim das Delícias - Hieronymus Bosch

A BÍBLIA POÉTICA

Gênesis

A criação dos céus e da terra e de tudo o que neles há

Caos, turbilhão, trevas
Incógnita infinita:
Deus é Deus antes da criação
Do homem que nele habita?

O que havia antes de Deus?
O que existia antes do Verbo?
Dúvida não existia
Por não haver espaço para a pergunta.

Silêncio, silêncio, silêncio.
No princípio, o nada
Ausência do vazio
Tudo é nada
Tudo é Deus e
Deus criou a ação.

´Primeiro motor universal`
Topus Uranus,
Deus transcende a própria criação
Ele se cria e se recria
Deste movimento criacionista
Pura explosão – Big Bang
Há 15 bilhões de anos atrás
Vai surgindo o caos de tudo que será ordenado
Sopa de letras, palavras divinas
Para o homem-futuro desfrutar.
Palavras reservadas para tábuas da Lei
Palavras para Abraão, tentação para Jó, Lot, cânticos para Salomão/
Epístolas para Corinthios, para o batismo e para Herodes
Palavras, tristes palavras, maldições. sedições e salvações
Palavras, elas todas, despidas ainda
Porque a vergonha não havia
Palavras não faltam e ao homem tudo será destinado nomear
Criar Babel e elevar palavras ao céu,
Palavras reservadas para uso de Maria e José
Palavras para atravessar mares
Palavras para a glória, palavra / de tropeço,
O mal não é o que entra pela boca, mas o que sai dela.
Palavras para transformar água em vinho
Palavras para salvar
Deus se recria
E é desta recriação que surge o universo
O Universo é criado a partir da recriação de Deus
O Universo é uma recreação divina.

Deste movimento espiralado
Destas circunvoluções sobre si mesmo
Deste momento único, indescritível e infinito
Pela beleza incomparável, infinita beatitude
Bondade infinita / Clarão eterno
Feito para aquecer, feito para esfriar
Feito para nascer / feito para cegar.

A Luz jorrava num gozo de cores.
Da pura luz branca que irradiava
Nasceu o primeiro anjo
Envolto pelo manto de luz
Também luz divina ele irradiava.
Sua luz era tão intensa que Deus lhe deu um nome:
Estrela-da-Manhã. Deu-lhe o nome que quis, pois
Poderia ser Estrela-que-não-dorme / Estrela-queda.

Primeira estrela de uma constelação de anjos
Infinita espiral
Criados também pela luz alva que Dele irradia
A cada anjo que nascia
Deus acrescentava em sua branca luz
Uma pincelada de outra cor.

Só o primeiro anjo
A Estrela-da-Manhã permaneceu
Imaculadamente branco em luz.

Os anjos subiam e desciam
Num celestial movimento
Pelo facho branco-azulado de luz
Emitido pelo Criador
Entre céu e terra
Entre o imemorial e o finito
Entre o insciente e o perceptível
Entre o nada-antes e o porvir.

Transportavam pedaços do céu
Para a terra.
Água-fogo-terra-ar, foram os primeiros
Quatro elementos essenciais à vida que surgiram.
Tétrada superior, Deus estava neles
E eles representavam uma parte de Deus.

Deus, também tetragrama intraduzível,
Vai desfazendo parte de seu enigma
Mistério insolúvel
Em sentimentalidades apalpáveis
Doçuras de amor
Transubstancialidades divinas em terrenas
Quatro elementos essenciais à vida
Deus vai revelando sua luz espiralada
Em condições de possibilidades
Para que da invisível luz
O mundo se torne plausível / fértil de possibilidades
Crescei e multiplicai-vos ainda viria em mandamento
A vida apenas iniciava sem Jardim
Habitável em sua consistência.  
                   
Agora, céu e terra
Água e fogo,
A luz jorrou
Viu que era boa
Pois havia sombras para clarear,
Havia fogo para a água deter
Havia o céu para a Terra alcançar
Deus criou diferenças.

Houve noite
Trevas, o luto do dia
Não, não era o mal
Era o primeiro dia.

Os céus e a terra
Ainda agonizavam a separação
Quando entre as águas
Deus criou mais terras.
Ali estava o mal?
Não, o homem-criatura ainda não havia.
Sem suas pegadas na areia da manhã
Só Eolo alisava dunas e as movia em graça divina /
E transportava grãos. Polinização era o
Que não havia /
Pois de tudo Deus,
Em sua graça infinita, gerava.

A Estrela-da-Manhã
O primeiro anjo, tudo observava
Achando-se, como primogênito,
Também com direito
A usufruir da criação.
Queria pisar amanhãs
Ser senhor dos homens
Ainda por vir.
Ele, já era para mau uso: o Mal.

Proto-Insubmisso
Que futuramente cairia como Lúcifer
Para também prover, zelosamente,
A queda do futuro homem.
Início da luta entre o bem e o mal
No meio de tudo
Um ser vivente que pensa / fala
Glorifica, exulta
Recua, amedronta, treme e teme.
Pequena Tátil. Pobre irmã.

Primeiro o caldo,
Depois firmamento entre
A água e a água, a separação.
Vagas caudalosas
Para onde olharia em abismo
A criatura.


Labirinto por fazer
Deus mais do que nunca
neste momento foi, é, e será
não havia ainda o tempo.


Manhã, tarde e céus
veludo negro de referências
acima, abaixo, direita e esquerda
são um só no segundo dia /
Caos ordenado e outro dia por fazer.


Viu Deus que isso era bom
e Deus havia criado
mesmo que ele não quisesse
a bondade. Mas isso também estava
incluído em seus planos.

Protoprincípio, Protopai e Abismo.
Incompreensível e Invisível
Eterno e Ingênito.
Abismo, Silêncio, Nous e Verdade.
Abismo, Nous, Logos e Homem.

Pela segunda vez
As águas se separarão das águas
Para dar lugar à porção seca
E a criação do Deus-Terra.

Até o antes, Deus era também o nada
Vazio e caos Ele era, depois
Deus não criava só o mundo
Ele também se multiplicava.
Anunciava-se em calor e frio,
Úmido e seco / tempestades e potestades
São a Ogdôada da Potência Divina.


E a sua semente caiu na Terra
Frutificando em relvas, campos,
Árvores de todas as espécies
Pois todas as espécies eram Deus.

E o Deus de todas as espécies também foi criado...
E, com ele, o terceiro dia.

Deus, se já experimentara satisfação
Antes do primeiro terroso, 
Foi a de salpicar o firmamento
De estrelas, cometas e galáxias,
Buracos negros, curvas imemoriais e
Meteoros que riscam o espaço
Ao encontro do infinito.
Pura beleza de traços luminosos
Que num átimo de segundo
Demonstram a velocidade de Deus.
Deus-raios, Deus-cometas,
Deus-Luz. Marca seu território /
E o infinito se cria
Em sutilezas e mistérios. Recônditos do amanhã
No insolúvel das almas.

A dimensão é o todo
E tudo é o infinito em Deus
O princípio e o fim ... se houvesse.

Noite e dia, sol e lua
Luzeiros das estações
Dos dias, meses e anos
Deus revelava seus sinais
Sagrados em sua extemporaneidade.

Manhã, tarde e trevas
mais amenas, ainda longínquas
Estrelas salpicadas
Sobre o quarto dia.

Haja vida e vida houve
Nos céus os pássaros (corpos ainda intraduzíveis,
andorinhas em revoada, o peso da gravidade no ar /
um céu a conquistar /
as espécies por voar).
A insustentável leveza do Ser ganhava equilíbrio -
tentando ser invariável com o tempo -
Para alçar vôos mais altos
Para além da mortalidade
Onde tempo nenhum existe
Onde insiste todo o tempo do mundo: invisível.

Nos mares anêmonas, peixes abissais
Procuram seus lugares na invenção
Rios, lagos, mares caudalosos, serenos
Pássaros e peixes testemunham o quinto dia.

Deus viu que era bom
Ter vida através dele
Ainda não havia morrido um só peixe
Nem nascido um só pássaro.

Todos coabitavam a existência ex-nihilo...
Todos, sem exceção, tinham a mesma idade
A idade da Potência Divina.

Um novo ato
Desta vez prometido à Terra
Um destino,
Deus ousou sobre todos os outros dias
Do barro terroso surgia um sopro divino /
Deus inaugurava sua Capela Cistina.


Animais selvagens, domésticos,
Quadrúpedes, bípedes,
Répteis rastejantes - as serpentes -
Povoem a terra conforme a sua espécie
Em quatro, duas ou nenhuma pata
Corram nos campos, planícies ou mata,
Subam árvores, desçam montanhas, percorram mares,
Povoem cavernas. Habitem a Terra /
Arejem com ninhos os céus.


Deus viu que isso era bom
Mas que não tinha ninguém para vê-lo /
Tendo soprado à sua própria imagem
Fez vir do barro o homem. Deus, orgulhoso de sua imagem,
Passou a ver-se em espelho.
Reflexo de si /
Imagem infinita
Inaugural:
Crescei e multiplicai-vos.
Deus, especular, infinito, dizia a si mesmo.


Deus viu que o que fizera
Era muito bom
Pois era Ele mesmo
Deus-Céu, Deus-Mar, Deus-Terra,
Deus-Fogo,
Deus-Homem.

Deus olhou toda sua criação
Durante seis dias ele olhou
Firmamento, águas, terra
Toda a população vivente
E o olhar de Deus era zeloso
Porque olhava para si mesmo.

Foi só no sétimo dia
Que Ele descansou
- precisava?

Seu olhar, ato criador
Potência divina
Potência de luz
Jorrava em cada um
E cada um emanava
A sua parte concedida:
Palavras em abundância
Transmitindo para sempre
A luz primordial. 

A formação do homem


Deus criou do pó da terra
De um sopro o homem se formou
O hálito da vida nas narinas
E o hálito de Deus foi a alma humana.

Deus criou o homem num deserto /
De ideias, pensamentos e ciências.
Fez surgir um Oásis /
Jardim das Delícias - Éden
E o colocou no centro
Da primeira metáfora.

A Estrela-da-Manhã
A tudo continuava atentamente observando.
E maravilhado com esta criatura
Assim disse ao Criador:
- É minha esta criatura-homem.
Vou ter-me com ela na Terra. Vou ensinar-lhe
Tudo o que ela quiser desde que seja minha.
Serei fiel à sua condição de humano,
Estarei sempre ao seu lado, satisfarei todas suas vontades /
Desejos ardentes e satisfações da carne.
Revelarei todos os mistérios, desde que seja eternamente meu.
Deus lhe disse – Teu desejo é a tua queda.
Perderás teu lugar no céu por causa desta criatura?
- Por acaso não o fizeste para que ele o adorasse? Perderei com intenso prazer este lugar aqui no céu mas em troca terei meu reinado sobre a terra, respondeu já demoniacamente o anjo-de-luz. Para que a criatura o adore, continuou ele, terá que se haver comigo e eu serei as trevas de seu desejo, tentação da sua alma, inquietação da sua existência. Provocarei e farei provações em seus caminhos para que ele tropece. Onde colocares luz, serei sombra e morte; mortalha que cegará sua eternidade.
Enquanto falava isso, sua luz antes alva, jorrava negra. Seu antigo brilho, outrora tão intenso perdia seu viço, sua luz em eterno degradée, diluia-se em negritudes abissais.
A seguir foi envolto num manto de tristeza e escuridão.
- Saia Satanás, pois já não sois mais do reino dos céus.
- Meu reino será a terra e meu instrumento para tortura, o homem. Feito de barro será frágil, quebradiço e facilmente o colocarei contra Ti. Sua fraqueza será minha força e a fé que nele restar eu domarei com meus cães de fogo. Aquele a quem fizeste para lhe adorar, eu o possuirei.
- O meu amor, dissse Deus, será maior que sua maldade porque sou o que sou: infinito.
- É o que veremos! É o que veremos! Serei infinito enquanto durar o último homem! Findarei quando morrer a vida na terra. Brandiu o desafiante Lúcifer.
Foram suas últimas palavras antes da sua queda do reino de Deus.


Deserto de idéias
De conhecimento
Do bem, do mal
O homem nasceu
Na insciência.

Três rios inauguravam o jardim
E, antes que o terroso pudesse
Batizar seus pés nas águas
Deus proferiu sua primeira interdição.


Ali no meio há uma árvore
A árvore do conhecimento
Do bem e do mal não provarás
Se saciar esta fome, ela te matará.

Porém Deus não impediu o homem de ter fome...
E Deus estava em tudo
Estava na fome do homem
E Deus era a fome do homem.
Queria se saciar Nele
E Deus viu que isso também era bom.
Deu-lhe partes de si: alguns frutos, algumas sementes e peixes em abundância. Fome de Deus era o que ainda não havia, pois Ele estava ali. A infinita fome do Criador só se abrirá como uma chaga
Algum tempo depois quando o primeiro homem não morar mais no Jardim. Triste paradoxo: finito, sua fome será eterna.


Nomeou aos animais o homem
Um a um nomeou
Havia ali alguma sabedoria
Mas as palavras continuavam nuas,
Mas ainda não havia nascido a vergonha.

E a fome também era fome
Por um semelhante
Não-todo, não-toda melhor se diz
Pois foi durante o sono do homem
Em seus sonhos,
Sonhos de Deus, por que não,
Que a mulher foi concebida para
Saciar a Vontade de Criação.




A formação da mulher


Deus quis que o homem se sentisse só
Porém o homem como não experimentara
A companhia de outro semelhante
Ignorava sua solidão.

E já era Lúcifer o nome da solidão do homem.

Então, porque sabia o que era solidão
Deus disse:
Não é bom que o homem esteja só
E sozinho o homem dormiu
Pela primeira vez.


Quando acordou julgou ser
Outro ele mas quando falou
O outro ser, as palavras já não
Estavam nuas mas eles não sentiram
Vergonha dos corpos nus.
A solidão se amarrava em laços
De ossos: costelas é o que se diz.
Laços umbilicais ainda eram o sopro divino.
Uma fina corrente dourada descia dos céus e alimentava
A fome do homem.

Deus disse:
Osso dos meus ossos
Carne da minha carne
Somos um só
Pois ainda guardas
As minhas palavras. Assim deverá ser para sempre.
Deves sempre andar nas minhas palavras. Carregue-as dentro de ti
Pois estarei com você para todo o sempre.
Lúcifer, atento, criava o esquecimento.

A palavra divina ressoava
No homem, na mulher
De forma imperiosa
Porém uma voz arrastada
Naquele solo virgem
Fazia-se ouvir da sagaz /
Serpente.

Assim...

Houve um anjo que em sua descida,
Como todos os outros faziam
Para transportar os céus
Para a terra,
Resolveu ser Senhor-de-Si-sobre-a-terra.
Para tanto, subjugaria a criatura humana
Criada à imagem de Deus.
Se ele caiu, que caísse também o humano.
O demônio decaído, tentaria para sempre
Apartar a religação do homem com Deus.
Sua astúcia? Fazer o homem acreditar
Em sua não existência.




A queda do humano

Sustentou-se por pouco /
Capilar momento da história
A breve e fugidia certeza da
Eternidade no homem.


O veneno da palavra rastejante
Diz à mulher inverdades /
Que não morreria
Se provasse do fruto /
Delito
Do meio e que
Viveria como Deus
Sabedor do bem e do mal.

Olhos arregalados é o que tereis...
Esqueceu-se de dizer
A que tinha o veneno nas palavras,
Que os olhos se abririam para a morte
Que os olhos não teriam mais norte
Cegos estariam para além do próprio umbigo
No centro do bem e do mal, está a morte:
Sorrindo.

A mulher provou do fruto impróprio
Tendo gostado do que comeu e viu
Deu ao homem a chance de vê-la
Ao dar-lhe o saboroso fruto.

A palavra já não era nua
Sua precariedade deixava revelar
Contornos, relevos, reentrâncias
Que não cabiam em nenhum grito.
Exultante, o homem queria gritar
A beleza revelada, mas as palavras
Tropeçavam em sua boca.
Onde havia a nudez pela pureza das palavras
Agora havia um hiato entre elas
E este hiato entre uma palavra e outra,
Afânise do humano,
Era Lúcifer.

O tropeço - equívoco de palavras -,
Desencontro de línguas
Era o regozijo da Babel rastejante.

A vergonha dos corpos nus
Foi o primeiro conhecimento: letal.
E a desobediência, a ira do Senhor.

Com o pecado
Criou-se a inocência
Tardia para evitar
O precipício criado
Para a queda do humano.


O precipício, a queda
Tudo é criação
Serpente, homem, mulher
A maldade está no terroso
Não em Deus
Deus viu que isso era bom.

E os olhos de Deus também se arregalaram...

E maldisse à mulher:
Sofrerás para ter filhos
Serás filha do sofrimento
Pois teu desejo pertencerá a teu marido
E ele te governará.


Doravante o homem
A cada manhã da vida
Lutará para soerguer-se
Na luta contra a queda
Derramada ao sopro do dia.
  

E maldisse também ao homem:
Maldita será tua terra
Teu pão será temperado
Com teu suor salgado
Da fadiga de todos os dias.

Deus, por sua vontade
Fez morrer alguns animais
Não, não foi o homem quem os matou
Pois Deus queria vestir Adão e Eva
Agora nomeados
Mais com peles do que com palavras.


Jardineiro zeloso
Esmerado na poda
Consistente no cultivo
Deus viu que o homem
Aquela primeira semente
Não dera o fruto esperado
Deveria, portanto, ser procriado
Para fora do Jardim.


O Éden ficaria para sempre 
Como a saudade jamais reencontrada...


Abel e Caim


Uma única geração os separava
Além, é claro, da voz de Deus
- não é o bastante?
Abel e Caim, filhos dos filhos do Jardim
Filhos caídos do humano
E de sua queda,
Nunca desejaram retornar?
Nunca lhes foi contada
A primeira história de pai para filho?
Transmissão herdada: cabala de palavras inaugurais?
Nunca, travessos, desejaram ludibriar
Os querubins ao oriente, e, aos jardins,
Por entre as sombras, retornar?
Ao jardim da infância dos seus pais?


Caim e Abel,
Infância perdida no pecado dos pais,
Adolescência postergada
Trabalho por diversão
O primeiro, servidor do terreno
O segundo, pastor de ovinos.
De suas produções ofertaram
Ao Senhor
Ao Senhor, frutos da terra
Ao Senhor, entranhas e gorduras animais.


Deus-arbitrário desdenhou as ofertas /
Primeiro holocausto
Do primogênito,
Preferindo as do segundo.
Caim revoltado contra o Senhor
Cometeu o primeiro assassinato
Contra a escolha de Deus
Inaugurando o fratricídio.


Caim, homem do campo
Arrasta Abel para o campo
Da morte.

Abel, primeiro homem a morrer
Caim, o primeiro homem
Do fruto do primeiro pecado
De Adão e Eva.
“Morrerás, morrerás”
Inaugura a genealogia.

Caim, primeiro filho do humano
Primeiro assassino
Carrega consigo a primeira mentira:
Deus pergunta
Onde está seu irmão
Não sei, não sei, mentiu.


A mentira era O conhecimento
Da árvore que se deveria evitar
“não sei” guarda uma verdade
Um Outro sabe
Não, não é Deus.

Segunda expulsão na Terra:
Caim banido da tribo /
Constrói a primeira cidade
Um assassino é seu fundador
Moléstia transmitida: assassinatos, crimes /
A outras gerações de cidades
Aos filhos, dos filhos, dos filhos
Do filho.


Caim, homem da posse
Abel, inconsistência, vaidade, fumaça
Abel se esvai, Hèbèl, Hèbèl, Hèbèl
Sem vestígios ou progenitura
O primeiro holocausto
Precede ao assassinato.

Maldito! Maldito!
Vocifera o Senhor
Mais onipotente do que nunca
Perplexidade e paradoxo
Deus condena Caim
A sofrer da terra
Errante e fugitivo
E, ao mesmo tempo amaldiçoa
Vingando por sete vezes
Quem abater Caim.

A descendência de Adão
Gerou tantos filhos
Durante tantos anos
Que gerou também...


A corrupção do gênero humano

A queda...
O homem é mau
A maldade ronda-lhe o espírito
multiplicada por mil estrelas-da-manhã.
'O meu espírito não agirá para sempre no homem'
'Então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra'
'Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei...'Gn, 7.7