Hoje, na sala de espera de um médico, vi uma mulher que trançava palitos. Eram enormes. Não eram hashis, aqueles palitinhos japoneses para comer peixe cru. Trançava palitos com um enorme novelo de linha branca. Não perguntei o que era. Não tive coragem. Fiquei envergonhado. Ela estava muito concentrada com seus óculos pince-nez que pareciam estar à beira de um precipício. Minha vontade era consertá-los, apará-lo às mãos nuas e impedir-lhe a queda. Mas eles desafiavam a gravidade. Não ela não tinha um ar grave. Muito pelo contrário, ela possuía um ar doce. Parecia um casaco para um neném. Mas não perguntei. Com certeza deveria ser para seu neto. Ou neta. Era branco. Talvez nem ela soubesse o sexo. Sim, era uma anciã. Perco a noção da idade ao olhar pessoas muito idosas com os cabelos a caírem neve. Às vezes mal sei calcular minha idade.
Mas não havia nenhuma criança com ela. Ela estava só: a criar envólucros para um corpo que ainda não habitava o tricô. Espaço de agasalho humano. Espaço de acolhimento para quem está por vir. Belo gesto criacionista daquela senhora. Ela dava vida a quem ainda nem sabia da existência da palavra avó.
Toda palavra avó deveria ser canonizada, santificada, beatificada, divinizada. Avó é uma palavra santa. Espiritual. Dalai Lama, Mahatma Ghandi, Buda e Jesus Cristo devem ter tido boas avós. Talvez o médico que esperávamos também tivesse tido uma boa avó. Agora eu já torcia para isso porque não o conhecia e esperava ser bem atendido. Então torci para que o Dr. tivesse tido uma boa avó. Seria um bom médico, com certeza.
Não era um médico para almas pequenas. Não haveria de ser. Nem grandiosas. Era médico para almas médias. Eu é que esperava grandiosidade de sua alma. E fiz esta equação: pessoa com uma grande alma = terá tido uma grande avó. Não sei se acredito em almas. Talvez não. Mas acredito piamente em avós. In grandmother we trust, deveria estar escrito nas notas de cem dólares.
Ela continuava seu tricô. Talvez a criança ainda não houvesse nascido. Ela parecia não ter pressa. Eu é que ficava olhando as horas numa impaciência que antecedia a hora da consulta. Por que os médicos sempre atrasam? Eu me perguntava. Para que eu conheça melhor as avós. Respondi a mim mesmo sorrindo.
Ela aproximando-se do fim de seu tempo tecendo para quem ainda vai inaugurar a vida. O mundo deveria começar de trás para frente? Primeiro conheceríamos a morte com todos seus mistérios e depois a vida e suas nuances? Ou deveria perguntar a ela como se vive tecendo, acolhendo, criando tramas.
Ela aproximando-se do fim de seu tempo tecendo para quem ainda vai inaugurar a vida. O mundo deveria começar de trás para frente? Primeiro conheceríamos a morte com todos seus mistérios e depois a vida e suas nuances? Ou deveria perguntar a ela como se vive tecendo, acolhendo, criando tramas.
Não há pressa para quem tece linhas. Aprendo com ela. Também não há pressa para quem tece palavras. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, o filho nasce.
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